Título: PERU: HUMALA É FAVORITO APESAR DE POLÊMICAS
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 05/04/2006, O Mundo, p. 33

Pesquisas indicam que candidato deve ir ao segundo turno mesmo após declarações bombásticas de parentes

LIMA. No próximo domingo, os peruanos irão às urnas para eleger o sucessor do presidente Alejandro Toledo, após cinco anos de gestão. Tudo parece indicar, segundo recentes pesquisas divulgadas no país, que a grande vedete desta eleição será o ex-militar e líder do partido União pelo Peru (UPP), Ollanta Humala, o novo nacionalista latino-americano que promete "devolver o Peru aos peruanos".

De acordo com pesquisa realizada pela empresa de consultoria Apoyo, Humala, de 42 anos, é o grande favorito com 31% das intenções de voto.

A grande maioria de seus eleitores pertence aos setores mais humildes da população e vive no interior do país. É lá que Humala, acusado de ter violado os direitos humanos quando estava à frente da base militar Madre Mia, localizada na selva amazônica, em 1992, conseguiu construir um movimento nacionalista que se transformou na maior ameaça para os partidos tradicionais peruanos.

Candidato deve depor sobre caso envolvendo irmão

A cinco dias das eleições, o candidato continua às voltas com denúncias judiciais. Segundo informou ontem o jornal "El Comércio", Humala será intimado a depor mês que vem como testemunha no caso da morte de quatro policiais durante a ocupação de uma delegacia em Andahuaylas, ação comandada por seu irmão, Antauro, líder do Movimento Etnocacerista (grupo, no passado também integrado por Humala, que defende a "criação de uma nova república, na qual se respeite o legado da cultura Inca, nacionalize a indústria e instaure a pena de morte e o livre cultivo da folha de coca"). A Justiça também está investigando denúncias sobre violações dos direitos humanos que envolvem diretamente o candidato da UPP.

Nas últimas semanas, a candidata de direita, Lourdes Flores, do movimento Unidade Nacional, despencou nas pesquisas e hoje tem apenas 26% das intenções de voto. Já o ex-presidente Alan Garcia (1985-1990), eterno líder do Partido Aprista Peruano, está em terceiro lugar, com 23%.

Ex-militar proíbe a família de falar com a imprensa

Seja qual for o resultado, Humala já conseguiu revirar o cenário político peruano. O ex-militar, que liderou um levante militar contra o governo de Alberto Fujimori (1990-2000) é a grande atração da imprensa local e internacional, não somente por suas polêmicas declarações, mas sobretudo pela inesperada participação de sua família, que transformou a campanha numa delirante comédia de erros. O escândalo foi tal que Humala proibiu a seus familiares qualquer contato com os meios de comunicação. Trata-se da família mais politicamente incorreta da história política peruana. A mãe de Humala, Elena Tasso, chegou a dizer:

- Aposto com quem quiser que se forem fuzilados dois homossexuais não haveria mais tanta imoralidade nas ruas.

Não menos polêmico, o pai do candidato, Isaac Humala, defendeu a libertação de Abigael Guzmán, ex-líder do grupo terrorista Sendero Luminoso. O pai de Humala fundou o movimento etnonacionalista peruano, que mistura xenofobia, homofobia, anti-semitismo e militarismo.

- União pelo Peru não é um projeto familiar - assegurou o candidato, tentando minimizar o impacto das declarações de seus familiares.

Por incrível que pareça, Humala parece ter sobrevivido ao furacão familiar e certamente será um dos candidatos que disputará o segundo turno, em maio. Resta saber quem será seu adversário.