Título: Oposição vence luta do relatório
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 06/04/2006, O País, p. 3

Texto oficial de Osmar Serraglio é aprovado por 17 votos a 4 em sessão tumultuada

ACPI que serviu de palco para revelar ao Brasil o mensalão, caracterizado como o maior esquema de corrupção do governo Lula, operado pelas estrelas do PT e pelo careca Marcos Valério, chegou ao fim ontem depois de 245 dias de investigação e intensa disputa política com a aprovação do relatório oficial de Osmar Serraglio (PMDB-PR) por 17 votos sim e apenas quatro não. A votação conduzida com mãos-de-ferro pelo petista Delcídio Amaral (PT-MS) despertou a ira de seus companheiros, como Jorge Bittar (PT-RJ), que partiu para a Mesa e só não só o esmurrou porque foi seguro pela senadora Heloisa Helena (PSOL-AL). Venceu o relatório original de Serraglio, apesar das pressões e articulações das últimas horas para amenizar o texto sobre mensalão e livrar petistas do pedido de indiciamento.

O relatório afirma que o mensalão existiu e diz que as teses do caixa dois e dos empréstimos foram falsas. Poupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que ele foi informado do mensalão, mas não foi omisso porque teria mandado investigar a denúncia feita pelo então presidente do PTB Roberto Jefferson.

Os governistas, com o PT à frente, tentaram até o último minuto impedir a votação do relatório que indiciou 109 dirigentes partidários, de órgãos públicos, servidores e parlamentares beneficiados direta ou indiretamente pelos recursos do valerioduto. Com a aprovação do relatório de Serraglio, o substitutivo apresentado pelo PT negando o mensalão e retirando da lista de indiciados os ex-ministros José Dirceu, Luiz Gushiken e o ex-presidente José Genoino sequer foi a voto.

Clima tenso na abertura da sessão

Fracassadas as tentativas de acordo, em clima tenso, Delcídio abriu a sessão disposto a não permitir que os governistas impedissem a votação. Ele ficou indignado com um telefonema do líder do governo Aloizio Mercadante (PT-SP), que tentou pressioná-lo sobre a votação. Quando Serraglio concluiu o relato sobre as alterações ¿ periféricas, na maioria ¿ ao texto original, Delcídio foi implacável e negou a palavra aos petistas que queriam reabrir a discussão.

O petista Jorge Bittar, desesperado, gritava que tinha o direito de receber por escrito as modificações. Ele partiu com tudo para cima de Delcídio quando o texto começou a ser distribuído.

¿ Quem não se sentir à vontade pode votar depois. Como vota o senador César Borges? ¿ começou Delcídio, ignorando os protestos.

¿ Você não vai fazer isso, seu canalha! Filho da puta! Judas! ¿ gritava Bittar, tentando lhe dar um tapa.

Heloísa Helena conseguiu afastá-lo da Mesa. Em meio à confusão, os petistas nem conseguiram votar quando chamados. Quando Delcídio chamou o voto da líder Ideli Salvati (PT-SC), nova gritaria. Ela tentou contestar a votação, mas não encontrou guarida no presidente.

¿ O senhor vai me garantir o direito de falar. Vou falar! ¿ gritava Ideli.

¿ Estamos em processo de votação. Vai votar ou não? ¿ insistia Delcídio. Ela acabou sem votar.

Os governistas viram que não tinha mais jeito quando Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), apadrinhado de Jáder Barbalho (PMDB-PA), contrariou orientação do líder Ney Suassuna (PMDB-PB) de só votar no final, e bradou sim ao relatório de Serraglio. Junto com o de Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), foi o voto mais comemorado com aplausos da oposição. Asdrúbal comemorou como herói da oposição.

Mesmo quando os votos sim já tinham chegado a 17, um a mais do que o necessário para aprovação, Suassuna insistia que o PMDB só votaria depois de discutir pontos.

¿ Senador Ney, o relatório está aprovado. O PMDB vai votar ou já está satisfeito com o resultado? Foi aprovado por 17 votos contra 4 e a CPI dos Correios está encerrada ¿ comunicou Delcídio, antes de deixar a sala.