Título: Mais uma pizza: Câmara absolve João Paulo
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 06/04/2006, O País, p. 9

Ricardo Izar (PTB-SP) afirma que prevaleceu o `acordão¿ entre PT, PL, PP e parte do PMDB e do PTB

BRASÍLIA. A Câmara repetiu a dose e mais um mensaleiro escapou de perder o mandato. O ex-presidente da Câmara, ex-pré-candidato ao governo de São Paulo e uma das estrelas do PT envolvidas no escândalo do mensalão, o petista João Paulo Cunha (SP) foi absolvido ontem por 256 votos contra o pedido de cassação encaminhado pelo Conselho de Ética. Eram necessários 257 votos, no mínimo, para ser aprovada a cassação, mas apenas 209 parlamentares votaram pela perda do mandato.

Com essa decisão, o relator do caso, Cezar Schirmer (PMDB-RS), decidiu abandonar o Conselho de Ética, decisão que anuncia hoje na reunião do colegiado. João Paulo é o terceiro petista envolvido no escândalo que escapa da perda de mandato.

Os integrantes do Conselho reagiram a mais uma absolvição. Ricardo Izar (PTB-SP) afirmou que prevaleceu o ¿acordão¿ entre PT, PL, PP e parte do PMDB e do PTB.

¿ O conselho fez a sua parte. O que vale aqui no plenário é a amizade, o compadrio e o companheirismo. Essa decisão é um desastre para o Poder Legislativo ¿ disse Izar.

João Paulo recebeu R$50 mil do valerioduto

João Paulo recebeu R$50 mil do esquema do valerioduto. O dinheiro foi sacado na agência do Banco Rural, em Brasília, por sua mulher, Márcia, em setembro de 2003. Schirmer disse que não a convocou para depor por respeito. Na primeira versão sobre o caso, o deputado do PT afirmou que sua mulher havia ido à agência para pagar uma conta de TV por assinatura.

Também em protesto à onda de absolvições no plenário, os integrantes do Conselho anunciaram que vão usar luto na reunião de hoje. E os deputados do PSOL, Orlando Fantazini (SP) e Chico Alencar (RJ), também ameaçam abandonar o conselho. Das 11 recomendações do conselho, o plenário reverteu seis, a maioria.

Cezar Schirmer foi ontem mais duro nas suas críticas. Tanto na tribuna, onde repetiu seus argumentos pela condenção, como depois, após o resultado. Ele disse que a absolvição de João Paulo demonstra que ¿o povo é melhor que seus deputados¿ e afirmou que o Congresso Nacional virou uma ¿ameba¿.

¿É uma decisão lastimável, que comprova a cooptação do governo. O plenário da Câmara não está a altura de seu país. Se fosse na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul ele estaria cassado. Com a Justiça que temos lá, provavelmente João Paulo estaria preso ¿ disse Schirmer.

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), disse que a Câmara, com a decisão, enfrentava um dos piores momentos.

No seu discurso de defesa, João Paulo disse que está passando um momento muito duro de sua vida desde que teve seu nome envolvido na atual crise política. O petista revelou que pensou até em renunciar ao mandato quando o escândalo estourou:

¿ Decidi ficar e lutar, usando para isso a minha história. Não sou esse deputado que aparece no relatório. Sempre atuei politicamente pautado pela ética, o oposto do que estou sendo acusado.

O ex-presidente da Câmara também atacou a imprensa. Ele disse que os políticos ficam impotentes diante dos meios de comunicação. Afirmou ainda que a opinião pública é diferente da imprensa e disse que sua gestão como presidente da Câmara foi exitosa, citando feitos.

COLABOROU Ilimar Franco