Título: Félix confirma que Palocci pediu ajuda da Abin
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 06/04/2006, O País, p. 11

Ex-ministro teria dito que ele e o governo sofriam `pressões¿; general relatou o encontro a Lula dias depois

BRASÍLIA. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jorge Félix, a quem está subordinada a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), confirmou ontem no Congresso que foi procurado pelo então ministro Antonio Palocci alguns dias após a divulgação do extrato bancário do caseiro Francenildo Costa. Segundo deputados que participaram do encontro a portas fechadas com o general, ele afirmou que Palocci perguntou se o GSI poderia ajudar de alguma forma.

Félix disse que só informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a conversa quando o encontrou pessoalmente alguns dias depois. O general negou que Palocci tenha pedido abertamente para a Abin investigar o caseiro. O ex-ministro teria dito que o governo e ele próprio eram alvo de ¿pressão¿. O pedido de ajuda do ministro, segundo parlamentares, só poderia ser entendido como uma tentativa de acionar a Abin.

O general falou na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, a um grupo de cerca de dez parlamentares da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência. Ele disse que não acionou a Abin por entender que não havia nada que justificasse o envolvimento da agência. O general evitou responder qual seria ¿ e de quem partiria ¿ a ¿pressão¿ mencionada por Palocci.

¿ O general Félix confirma que Palocci o procurou, que disse haver pressão forte contra o governo e contra ele e que perguntou se o GSI poderia ajudar alguma coisa ¿ disse, ao final do encontro, o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).

¿ Palocci foi ao gabinete do general preocupado com acontecimentos de pressão que estava sofrendo e perguntou ao ministro Félix se ocorreria alguma medida, providência ¿ disse o presidente da comissão, deputado Alceu Collares (PDT-RS).

Parlamentares condenam pedido de ajuda de Palocci

Segundo os deputados, o encontro de Palocci com Félix durou cerca de dez minutos e ocorreu na semana após a divulgação do extrato do caseiro e anterior à demissão de Palocci.

Collares concedeu entrevista depois da reunião. Ao final, reformulou sua frase inicial, afirmando que, na verdade, o general não teria mencionado nenhuma pergunta de Palocci sobre ¿medidas e providências¿ que pudessem ser tomadas pelo GSI. Collares, no entanto, condenou a ida de Palocci ao gabinete de Félix na condição de ministro da Fazenda. Isso porque o general se reporta diretamente ao presidente da República.

Para Collares, a simples ida ao gabinete do general deixa claro que Palocci foi pedir a ajuda da Abin. Ele contou que os parlamentares insistiram para saber qual tinha sido a reação de Félix quando Palocci mencionou ser alvo de pressões.

¿ Ficava estranho, com o ministro tendo dito isso, que ele tivesse ficado em silêncio. É evidente que ele foi pedir uma espécie de socorro ¿ disse Collares.

Os parlamentares consideraram convincentes as explicações do ministro do GSI no sentido de que a Abin não foi acionada. Tanto Aleluia quanto Collares afirmaram que o caso, pelo menos no âmbito da comissão, está encerrado.

¿ Acho que a Abin não entrou nisso, graças a Deus ¿ disse Aleluia.

Segundo o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), Félix disse que não levou a sério a conversa com Palocci, pois se considera um ¿paizão¿ dentro do governo, uma vez que costuma ser bastante procurado em busca de ajuda.

¿ Ele disse que entendeu como uma coisa mais sentimental ¿ disse Gabeira.