Título: EX-GERENTE DA NOSSA CAIXA FICARÁ SOB PROTEÇÃO
Autor: Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 06/04/2006, O País, p. 13

MP paulista quer ouvir Jaime de Castro Junior, que desapareceu após sofrer ameaças de morte

SÃO PAULO. Os deputados paulistas acionaram a polícia para localizar e proteger Jaime de Castro Junior, o ex-gerente de marketing da Nossa Caixa responsável pelas principais denúncias contra o banco, acusado de favorecer políticos ligados ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembléia, Castro Junior desapareceu após sofrer ameaças de morte. O Ministério Público, que marcou o depoimento do ex-gerente para o dia 12, também será notificado das ameaças sofridas pelo ex-gerente.

Oposição consegue furar bloqueio tucano

Junto com o pedido de proteção, os deputados da oposição conseguiram furar o bloqueio tucano na Assembléia e aprovaram que o ex-funcionário da Nossa Caixa seja convidado a testemunhar sobre as ameaças. Desde fevereiro, a bancada que apóia Alckmin tem conseguido evitar todos os pedidos de apuração das denúncias contra a Nossa Caixa. O banco é suspeito de uso político das verbas de publicidade, conforme denúncia de seu próprio ex-gerente.

¿ Estou preocupado. Tenho 27 anos de carreira como delegado, chefiei as investigações da máfia dos fiscais e já vi muita gente ameaçada morrer. Cumpri minha obrigação de informar sobre as ameaças¿ disse o corregedor da Assembléia, Romeu Tuma Jr. (PMDB).

Tuma Jr. apresentou ontem os relatos levantados pela Corregedoria, que dão conta das ameaças. Os relatos foram colhidos de pessoas próximas do ex-funcionário, cujos nomes estão sendo preservados na investigação.

O convite de depoimento de Castro Junior e o pedido de localização e de proteção pessoal para o ex-gerente foram aprovado por unanimidade na Comissão de Segurança Pública, recebendo aval até de Edson Ferrarini (PTB), da base aliada ao ex-governador.

O deputado Carlinhos Almeida (PT), autor de um dos requerimentos aprovados pela Comissão, afirmou que, se o ex-gerente estiver temeroso de se apresentar à Assembléia, um grupo de deputados poderá ouvi-lo em local privado, que não será divulgado.

Já o presidente da Comissão, o deputado Afanasio Jazadji (PFL), explicou que o depoimento de Castro Junior deverá ficar focado nas informações sobre as supostas ameaças de morte. Com essa orientação, o ex-funcionário não precisaria se estender em detalhes sobre as supostas irregularidades do banco.

¿ Queremos esclarecer essa situação ¿ disse Jazadji.

O líder do governo na Assembléia, Edson Aparecido (PSDB), contestou, no início da noite de ontem, o convite que será feito a Jaime de Castro Jr. para depor. Segundo o deputado, o pedido não entrou em pauta e, por isso, não tem validade. O PSDB não participou da reunião da Comissão de Segurança Pública, que teve a presença de deputados de partidos governistas como PFL, PTB e PMDB, além do PT.

¿ Tuma Jr. está querendo holofotes. Esses pedidos não têm fundamento ¿ disse Aparecido.

De qualquer forma, Jaime de Castro só pode ser convidado a testemunhar, pois, como não é mais funcionário do governo estadual, sua convocação obrigatória fica vetada.

O bloqueio pró-Alckmin na Assembléia tem sido eficiente. Anteontem, os deputados governistas esvaziaram uma reunião da Comissão de Finanças e Orçamento, impedindo que fosse votado o pedido de depoimento de Castro Junior e de nomes ligados ao caso da Nossa Caixa.

Protesto reúne mais de cem militantes petistas

Na tarde de ontem, um grupo com pouco mais de cem militantes petistas e sindicalistas protestaram na Assembléia Legislativa para que seja instaurada a CPI da Nossa Caixa. Foi o segundo protesto em menos de uma semana. Outra manifestação será realizada na próxima semana.

O líder da bancada do PT, Enio Tatto, também esteve ontem em Brasília para tentar pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar um recurso impetrado pelos deputados para que o regimento da Assembléia seja modificado. Com a mudança, as CPIs seriam aprovadas por maioria simples, como é feito no Congresso Nacional.

Assim, a oposição tentaria furar o cerco governista que já impediu a instalação de 69 pedidos de CPI. Segundo os petistas, o STF deve se manifestar em, no máximo, duas semanas. Os deputados também aguardam do Tribunal de Justiça a decisão sobre a liminar que criaria a CPI da Nossa Caixa sem necessidade de acordo na Assembléia.