Título: REBELIÃO NA FEBEM DE TATUAPÉ DEIXA 57 FERIDOS
Autor: Gio Mendes e Guilherme Russo
Fonte: O Globo, 06/04/2006, O País, p. 15

Briga entre dois internos da unidade 12 teria provocado o motim, que começou na noite de terça-feira

SÃO PAULO. Previsto para ser desativado pelo governo estadual até o fim do ano, o Complexo Tatuapé da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), na Zona Leste da capital, foi palco de mais uma rebelião de adolescentes, que durou cerca de dez horas. Pelo menos 41 funcionários foram feitos reféns e 16 internos ficaram feridos. Nenhum em estado grave. Internos de sete unidades do complexo se rebelaram.

Segundo a Febem, 57 pessoas ficaram feridas. Três adolescentes e um funcionário ainda estão em observação no Pronto-Socorro do Tatuapé e ninguém corre risco de morte.

O motim foi iniciado por volta das 22h de terça-feira, se estendeu durante toda a madrugada de ontem, quando os internos começaram a depredar as unidades, e terminou por volta das 8h30, depois da invasão da tropa de choque da PM.

Rebelião começou em ala com infratores perigosos

Segundo a Febem, a rebelião começou com uma briga entre dois internos da ala 12, uma das unidades com adolescentes de maior periculosidade. Outros internos teriam aproveitado a confusão para render os funcionários. A Febem afirmou que a rebelião se espalhou pelas unidades 1, 2, 13, 14, 15 e 23, com 464 internos de alta periculosidade. Muitos deles passaram a maior parte do tempo em cima dos telhados das unidades.

Já na madrugada de ontem, os rebelados começaram a quebrar as paredes com o objetivo de reunir todas as unidades e atearam fogo a colchões.

Na madrugada, dois funcionários despencaram do telhado e foram levados para o hospital. Um deles saltou e o outro se desequilibrou ao tentar se proteger dos rebelados. O segundo sofreu uma fratura no tornozelo, foi internado e operado.

O batalhão de Choque da PM chegou ao local pouco antes das 8h e acabou com a rebelião meia hora depois. Cerca de 200 homens participaram da operação, que contou com o grupamento aéreo, a cavalaria, o COE (Comando de Operações Especiais), o Gate (Esquadrão Anti-Bombas), a Rota e o 3º grupamento do batalhão. A presidente da Febem, Berenice Gianella, solicitou o apoio do batalhão às 2h, ¿após esgotadas as possibilidades de negociação¿.

A PM entrou nas unidades rebeladas por terra e pelo ar, arrombando portas bloqueadas por móveis e colchões em chamas, e a partir de helicópteros, que deixaram policiais nos telhados. Os internos usaram portas arrancadas das unidades para se defender das balas de borracha e bombas de gás usadas durante a invasão da PM. Em um dos telhados, um policial foi visto chutando um interno.

¿ O complexo estava (praticamente) tomado, a unidade 23 principalmente ¿ disse o coronel Joviano Conceição de Lima, comandante do batalhão de Choque. Segundo ele, os internos estavam armados com facas improvisadas, pedaços de pau e ferro.

Às 14h45, a unidade 20, com 90 internos e que não havia se envolvido na rebelião, também ensaiou um motim, que durou cerca de meia hora e foi controlado pela PM, que ainda permanecia no complexo.

A Febem não avaliou o estrago e não descarta que transferências podem ser feitas.

Nenhum interno conseguiu fugir durante o motim

A correria no interior da Febem, de madrugada, fez com que moradores do bairro ligassem para a PM e comunicassem que os adolescentes estariam fugindo. Segundo a Febem, nenhum interno fugiu. O complexo abriga atualmente 1.228 adolescentes em 15 unidades.

Conceição Paganele, presidente da Associação de Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco (Amar), disse que os menores vêm sofrendo espancamento e tortura na unidade 14 há pelo menos dois meses e que as outras partes do complexo se rebelaram em solidariedade aos internos supostamente espancados e torturados. A Febem nega as acusações.

A Febem afirmou que foi informada por funcionários do complexo que, numa visita à Febem, Conceição teria incitado a rebelião de ontem.