Título: `FUTEBOL GOZA DE MÁ FAMA NO CINEMA¿
Autor: Rodrigo Fonseca
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Segundo Caderno, p. 2

Ugo Giorgetti lança `Boleiros 2¿ avesso à tese de que filmes sobre o esporte sempre fracassam

Enquanto a noção do que é cinema popular brasileiro não for repensada por produtores, distribuidores e exibidores à luz de candidatos a blockbuster que deram com os burros nas bilheterias (vide o recente caso de ¿A máquina¿), cineastas como Ugo Giorgetti jamais terão seus nomes associados a rendas de milhões de reais. Mas não é o fato de seu público cativo não passar da casa dos cem mil o que leva o cineasta paulista de 64 anos a pensar que deva lançar ¿Boleiros 2 ¿ Vencedores e vencidos¿ avesso à máxima de que filmes ligados a futebol dão errado... invariavelmente.

O diretor, que saiu do Festival de Gramado, em 1989, com cinco Kikitos conquistados por ¿Festa¿, lança hoje o episódio II da história dos freqüentadores do imaginário Aurélio¿s Bar resguardado em um palpite:

¿ Futebol goza de má fama no cinema. Mas é uma pseudo-má fama. Não me convenço disso porque não há tantos filmes assim sobre o assunto para que isso seja uma lei. Não é por que um documentário sobre o Pelé vende menos ingressos do que poderia que futebol dará sempre errado nas telas.

Dois documentários prontinhos sem lugar ao sol

Giorgetti se refere aos resultados pouco expressivos de ¿Pelé eterno¿, de Aníbal Massaíni, nas salas de exibição: 257.932 ingressos vendidos, pouco para uma grande produção. Ele mesmo participou do longa de Massaíni entre os entrevistados. Mas o dado realmente relevante, segundo ele, na equação que resultou no fiasco comercial de filmes sobre o esporte mais popular do país é outro:

¿ Há pouquíssimos filmes de ficção sobre futebol. E desses, a maioria é muito ruim. Até por serem filmes que exploram o futebol como veículo.

Estima-se que ¿Boleiros ¿ Era uma vez o futebol...¿ atraiu cerca de 70 mil pagantes. O que era uma média exemplar para um começo de Retomada, pré-¿2 filhos de Francisco¿, em que só ¿O noviço rebelde¿, com Renato Aragão, fora visto por 1,5 milhão de brasileiros. Passados oito anos, Giorgetti retomou antigos personagens como o alterado técnico vivido por Lima Duarte, os atletas já na terceira idade encarnados por Adriano Stuart e Flávio Migliaccio. O foco desse reencontro: discutir problemas humanos a partir da paixão pela pelota intrínseca ao DNA brasileiro.

¿ Imagine um sujeito de 18 anos que ingressa numa profissão em que tudo é risco. Da chuva que estraga o gramado às pressòes da torcida. É um trabalho no limite do risco. São essas figuras que me interessam. É por isso que eu faço ¿Boleiros¿ como um filme humanista. Todos nós, que fazemos cinema no Brasil, somos subsidiados. Se ninguém for ver ¿Boleiros 2¿, eu não perco um tostão. Isso me dá o dever de não fazer filmes comprometidos com o mercado, e sim com a preocupação de fazer alguma coisa que acrescente valor ao patrimônio cultural. Se eu tenho logrado isso ou não, é outro papo. É questão de mérito. Mas me preocupo.

Com planos de filmar um monólogo de 72 minutos com Antonio Abujamra, Giorgetti lamenta ter dois documentários prontos na gaveta, co-produzidos pela TV Cultura de São Paulo, que ainda não tiveram escoamento. Nem na própria emissora. Um é ¿Variações sobre um quarteto de cordas¿, sobre Johannes Oelsner, músico nascido na Alemanha em 1915 e radicado no Brasil desde 1939. O outro é ¿Pizza¿, que analisa as contradições sociais que cercam o alimento em São Paulo .

¿ Esse suposto sucesso do documentário é uma farsa. As pessoas gastam dinheiro subvencionado, os filmes são vistos por oito mil pessoas e elas acreditam que isso é um boom. Se você imaginar que o maior fenômeno dos documentários, ¿Vinicius¿, que é um filme superbem-sucedido, deu pouco mais de 250 mil espectadores, onde é que está o boom?

NO RIO SHOW, a crítica do filme.