Título: INDO AO FRONT
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 07/04/2006, O GLOBO, p. 2

Enquanto festejava, anteontem, a aprovação do relatório da CPI dos Correios, a oposição traçava seus próximos objetivos. Alvo primeiro, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ao colocar-se à disposição do Congresso para prestar esclarecimentos sobre a quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, Bastos desarticulou o plano de levá-lo para a defensiva com uma convocação.

Já se frustrara ontem a oposição com a falta de quórum na Câmara ¿ na ressaca da absolvição do deputado João Paulo ¿ para aprovar o requerimento de convocação. Mas na semana que vem, era líquida e certa a aprovação, pelo menos no Senado, que só deixou de fazê-lo esta semana por conta da morte da mãe do autor, o senador tucano Arthur Virgílio.

¿ Agora vamos pegar o ministro Márcio. Ele terá que esclarecer sua participação neste episódio. Depois precisamos levantar a proteção judicial ao sigilo bancário de Paulo Okamotto, que certamente guarda revelações importantes sobre o presidente Lula ¿ dizia anteontem à noite o líder pefelista Rodrigo Maia.

Embora a base governista estivesse se mobilizando para evitar a convocação do ministro da Justiça, ontem o líder do governo, Arlindo Chinaglia, apareceu com o discurso virado, dizendo que ministros do governo Lula nunca se furtaram a comparecer ao Congresso. Um fato, com destaque para Palocci, que lá esteve muitas vezes antes de cair no inferno da CPI dos Bingos. Logo em seguida chegaram os ofícios do ministro, oferecendo-se para comparecer voluntariamente. Foi dele mesmo a avaliação de que, não tendo o que esconder, não teria razão alguma para evitar o comparecimento. Se permitisse uma operação de barragem dos governistas, aí sim, estaria se colocando na defensiva, igualando-se aos que já se valeram de subterfúgios diversos para evitar constrangimentos.

Tem dito ele que suas explicações são singelas e claras. Na noite de sexta-feira, 17 de março, quando fez uma escala em Brasília, voltando de Rondônia, reuniu-se com seus auxiliares no aeroporto e tomou conhecimento da visita que fizeram a Palocci na véspera, a chamado dele. Neste dia, o sigilo já vazara para a revista ¿Época¿. A pergunta elementar que um criminalista se faz nesta hora ¿ a quem interessa? ¿ e o relato ouvido dos auxiliares firmaram sua convicção. No dia seguinte, determinou à Polícia Federal a abertura de investigações sobre a autoria do delito. Nos dias seguintes, fez advertências ao presidente Lula, que preferiu esperar por evidências ou provas contra Palocci. Elas vieram na segunda-feira, dia 27, com as revelações que Mattoso fez no Planalto logo cedo, acompanhado da mulher, antes de depor à tarde na Polícia Federal. Lula voltou a Brasília para demitir Palocci.

A oposição quer detalhes, tem muitas desconfianças e perguntas a fazer. Mas com seu gesto de ontem, ela admite, Thomaz Bastos garantiu um refresco ao governo neste assunto até o dia de seu depoimento.