Título: Derrotado, PT ameaça fazer outro relatório sobre CPI e mandar ao MP
Autor: Maria Lima e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 07/04/2006, O País, p. 4

Tarso diz que ficou clara desvinculação do presidente dos fatos apurados

BRASÍLIA. A CPI dos Correios acabou na tarde de anteontem, mas a guerra entre governistas e oposição continuou acirrada ontem e deve ter novos embates. Inconformada com a aprovação do relatório que ratifica o mensalão, a bancada do PT na CPI levantou suspeitas sobre as modificações de última hora feitas por Osmar Serraglio (PMDB-PR) e anunciou que fará outro relatório, a ser encaminhado extra-oficialmente ao Ministério Público. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostou do resultado final da CPI.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, considerou que ficou clara no relatório final a desvinculação do presidente Lula dos fatos apurados. Para Genro, o governo não se sente marcado pelo mensalão, uma tese que, diz, ainda será examinada pelo Ministério Público. E deixou claro que o descontentamento do PT não é problema do governo:

¿ A CPI dos Correios chegou ao fim e para nós é muito importante que tenha ficado clara a desvinculação do presidente do que foi por ela apurado. Quanto a ex-ministros, militantes de partidos, é um contencioso sobre o qual o governo não se manifesta. O governo não se sente marcado pelo mensalão. O mensalão não envolve o presidente e, portanto, o governo não se sente lesado.

Serraglio: ¿Não mudei nada que atinja o mérito¿

Na representação ao Ministério Público os petistas vão incluir as omissões de Serraglio, além dos nomes de pessoas ligadas a fraudes investigadas pela CPI, retiradas na versão final. O PT acusa Serraglio de modificar o texto sem dar conhecimento à comissão e insinua que ele o fez atendendo a pedidos de parlamentares que mudaram o voto para aprovar seu relatório.

Em entrevista ao lado do presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), e do vice, Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), Serraglio negou que tenha retirado pedidos de indiciamento sem embasamento jurídico:

¿ Podem mandar outro relatório para o Ministério Público, mas é perda de tempo. Não mudei nada que atinja o mérito. Não conhecem este relator.

A supressão dos nomes do suplente de senador petebista João Leite Neto e de Armando Cunha levou os petistas a suspeitar que a modificação foi feita para cooptar votos, como o do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que ameaçava votar contra. Os dois estão ligados a uma das maiores franquias dos Correios em São Paulo, a Tamboré, com uma série de suspeitas de irregularidades.

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), responsável pela investigação nos Correios, disse que esse caso mostra claramente envolvimento de políticos nessas franquias, que têm faturamento milionário. Ele também criticou a retirada do pedido de indiciamento do atual presidente dos Correios, Jânio Pohren, que teria sido indicado pelo PMDB e é suspeito de favorecera empresa aérea Beta num contrato de R$250 milhões.

¿ Não houve qualquer solicitação formal para a retirada desses nomes. O relator tem de explicar isso. Eu fui o sub-relator da área, porque ele não me consultou? ¿ reclamou Cardozo.

¿ Há um clima de suspeição. E os suspeitos são o Delcídio, o Serraglio e todos que participaram desse cambalacho ¿ completou Jorge Bittar (PT-SP).

Serraglio disse que pede a investigação do caso das franquias e admitiu que recebeu o pedido de um pefelista ¿ não confirmou se era Onyx Lorenzoni ¿ para que os envolvidos na franquia Tamboré e Anchieta fossem investigados da mesma forma, já que os da Tamboré figuravam com conclusões mais afirmativas de fraudes sem quebra de sigilo.

¿ Todo o relato que o Cardozo me passou do caso das franquias será encaminhado para investigação dos acusados no Ministério Público. Só procurei dar um equilíbrio ¿ disse Serraglio.