Título: `Não fui presidente da CPI para defender o PT¿
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 07/04/2006, O País, p. 8

Delcídio entra em guerra contra petistas, que criticam sua atuação, e representa contra o deputado Bittar

BRASÍLIA. Enquanto emails de todo o país enchiam sua caixa de mensagens com elogios à condução da votação do relatório final da CPI dos Correios, o presidente Delcídio Amaral (PT-MS) era tratado pelos colegas do PT como inimigo número um do partido e do governo. O clima entre o senador e o PT era de guerra: o partido encaminhou representação à Mesa do Senado questionando a condução de Delcídio e pedindo a anulação da sessão. O senador, no fim do dia, protocolou duas representações contra o companheiro Jorge Bittar (PT-RJ).

Delcídio representou contra Bittar na Mesa da Câmara por quebra de decoro. E deu entrada no Ministério Público a uma ação criminal com base em lei que considera crime impedir, mediante violência, o funcionamento de uma CPI. Bittar o xingou de canalha, filho da puta e Judas. Delcídio fez pesadas críticas ao PT e acusou o partido de tentar evitar a aprovação de um relatório final da CPI. Mas avisou que não deixará o PT.

¿ Não fui eleito presidente da CPI para defender o PT. Entre ter uma postura partidária e de presidente da CPI, como condiz, prefiro ficar com o trabalho isento que fiz na CPI, um trabalho que hoje a opinião pública reconhece. Meu compromisso era com a CPI ¿ disse Delcídio. ¿ Mas aqui tem regra, aqui tem regimento, aqui tem ordem. Eu segui o regimento. Não íamos jamais terminar essa CPI sem o relatório. Era o que eles (PT) queriam com esse substitutivo: que a CPI terminasse sem relatório.

Voto do PT poderia implicar Lula, diz senador

Delcídio chamou de ¿tiro no pé¿ o relatório paralelo do PT e disse que essa estratégia quase levou à aprovação de um voto em separado do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) que pedia o indiciamento do presidente Lula como beneficiário do caixa dois do valerioduto.

¿ Se alguém estava pensando em retalhar o relatório, precisava pensar duas ou dez vezes antes. Quase foi um tiro definitivo não só no partido, mas também em outras pessoas.

Na liderança do PT, Bittar repetia que o ¿Judas¿ não tinha traído o PT, mas as práticas democráticas que seu partido tanto prezava. Ao ser informado das representações feitas por Delcídio, reagiu:

¿ Ele agora quer, de infrator, passar a vítima.

¿ O Brasil inteiro viu os elogios que recebi. O esforço compensou. O resultado valeu a pena. Essa CPI trouxe um sopro de esperança ¿ reagiu Delcídio.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), prometeu analisar rapidamente o recurso do PT contra a votação da CPI, mas sinalizou que terá pouca chance de ser aceito:

¿ Vou analisar e decidir de maneira imparcial. Espero anunciar a decisão logo. O pior que poderia acontecer era não ter relatório.

COLABOROU Adriana Vasconcelos