Título: EX-MINISTRO DEVE TER QUE DEPOR DE NOVO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 07/04/2006, O País, p. 10

Marcelo Netto também deverá ser interrogado outra vez mas acareação está descartada

BRASÍLIA. A Polícia Federal deverá intimar o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci para se explicar, pela segunda vez, sobre a quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa. A intenção do delegado Rodrigo Carneiro Gomes, que está à frente do inquérito, é chamar Palocci na fase final das investigações. O delegado espera ainda interrogar novamente o jornalista Marcelo Netto, ex-assessor de imprensa de Palocci. O delegado está decidindo se vai interrogar de novo o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso.

Para o delegado, é importante ouvir novamente Palocci e Marcelo Netto, mas ele não vê necessidade de submeter o ex-ministro e Jorge Mattoso a uma acareação, como defendem o senador Romeu Tuma (PFL-SP) e outros políticos de oposição. Segundo a Polícia Federal, Palocci e Mattoso apresentaram versões complementares sobre a operação de violação da conta de Francenildo e, por isso, não há motivo para provocar um confronto verbal entre os dois. Mattoso disse que pediu a um subordinado uma análise da conta de Francenildo e, depois, entregou o extrato a Palocci.

¿Estão querendo pautar a Polícia Federal¿

O ex-ministro disse que recebeu o extrato e, depois, destruiu o documento num triturador de papel. Os dois negam, no entanto, qualquer responsabilidade pelo vazamento das informações para a revista ¿Época¿. A Polícia Federal não acreditou no relato de Palocci e Mattoso, mas entende que uma acareação não teria utilidade alguma para a instrução do inquérito.

¿ Estão querendo pautar a Polícia Federal. Mas a posição de hoje é a mesma de ontem: não vai ter acareação ¿ disse um dos policiais que estão acompanhando de perto as investigações.

¿ Falei com o delegado e não vai ter acareação. O delegado me disse que já estava até relatando o inquérito ¿ afirmou Alberto Toron, advogado de Mattoso.

Palocci, Mattoso e Marcelo Netto são os três principais suspeitos de envolvimento na invasão da conta do caseiro. Palocci e Mattoso já foram indiciados no artigo 325 do Código Penal por quebra de sigilo funcional. O crime pode ser punido com dois anos a seis anos de prisão. O assessor Marcelo Netto não foi indiciado porque a Polícia Federal não tem elementos para incriminá-lo. Tanto Palocci como Mattoso inocentaram o assessor no depoimento que prestaram ao delegado Gomes.

Dificuldades para encontrar provas do vazamento

O relatório final do inquérito deve apontar ainda o ex-ministro da Fazenda como o mandante da quebra do sigilo de Francenildo. Pelas informações da polícia, Palocci ficou sabendo da movimentação financeira atípica de Francenildo e determinou a Mattoso vasculhar a conta do caseiro.

Mas, mesmo com o caso praticamente esclarecido, a Polícia Federal está com dificuldades para encontrar provas materiais do repasse do extrato para a revista ¿Época¿. As informações sobre a movimentação financeira de Francenildo foram publicadas no site da revista no dia 17, um dia depois da emissão ilegal do extrato na Caixa. Rodrigo Gomes passou o dia ontem relendo trechos de depoimentos e documentos relacionados ao caso. Entre os documentos estão fitas de vídeo e a relação de entrada e saída da Caixa no dia 16 de março.

A PF já ouviu os jornalistas da revista ¿Época¿ sobre o assunto mas não está interessada em pedir a quebra de sigilo telefônico da revista para investigar quem repassou o extrato. A orientação do delegado é preservar o direito constitucional do sigilo da fonte jornalística.