Título: Tiroteio e pânico em Copacabana
Autor: Alessandro Soler, Maria Elisa e Natan Damasceno
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Rio, p. 14

Caçada a ladrão nas ruas do bairro acaba com 2 mortos e 5 feridos

Uma tentativa de assalto a um prédio de luxo na Avenida Atlântica terminou por volta das 16h30m de ontem com um tiroteio que levou pânico às principais ruas de Copacabana. Durante o confronto entre policiais militares e o bandido que havia rendido uma família no edifício Palacete Atlântico, cinco pessoas foram feridas a bala e duas morreram ¿ o assaltante, com cinco tiros, e um homem que comia num restaurante à beira-mar, vítima de bala perdida. Para escapar dos disparos, turistas se jogaram no chão ou procuraram abrigo dentro de bares. Crianças que brincavam na Praça do Lido também se abaixaram para escapar dos projéteis. Um deles atingiu uma das salas de aulas da Escola Roma, onde alunos da 7ªsérie do ensino fundamental da rede municipal faziam prova.

A confusão começou quando um bandido, com a desculpa de que ia comprar um computador, anunciado pelo dono do imóvel, conseguiu entrar num apartamento do edifício 1.440 da Avenida Atlântica, próximo à Praça do Lido. O assaltante Sudário Cândido Dutra Ferreira, de 35 anos, rendeu o morador, que estava em casa com a mulher e a filha de 7 anos. Ele chegou a amordaçar a vítima com uma corda, mas ela conseguiu se desvencilhar e fugiu para a portaria do prédio pedindo socorro.

Policiais militares que estavam na cabine diante do edifício viram a cena e entraram no prédio, enquanto o morador, apavorado, escalava um muro para se refugiar no Hotel Ouro Verde. O ladrão, que tinha contra ele sete mandados de prisão por homicídio, estelionato, roubo e furto, e 15 passagens pela polícia, havia descido atrás do morador, mas ao ver os PMs voltou para o prédio e subiu as escadas. No playground, ele baleou na cabeça o PM Augusto Alexandre Pinheiro Júnior, de 23 anos, lotado no 19º BPM, e fugiu levando a pistola do policial.

Um rastro de feridos por balas perdidas

Perseguido por outro PM, ele trocou tiros com o policial na portaria do prédio, que teve os vidros estilhaçados. O confronto chegou à Avenida Atlântica, seguiu pela Rua Ronald de Carvalho e terminou na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, deixando um rastro de feridos pelo caminho e pessoas em desespero. No restaurante Balcony, na esquina da Avenida Atlântica com a Rua Ronald de Carvalho e vizinho ao prédio invadido, clientes que aproveitavam o dia ensolarado nas mesas da calçada foram surpreendidos pelo tiroteio. Morador de Nova Iguaçu, o aposentado Antonio Carlos Oliveira Dias, de 50 anos, comia uma pizza quando foi atingido por uma bala perdida nas costas. Ele morreu no local. Um morador de rua, Waygland Cândido, que estava ao lado do bar, foi baleado na perna esquerda. Testemunhas disseram que ele empurrou uma mulher para protegê-la. Outra versão diz que ele caiu em cima da mulher, na correria.

¿ Os clientes, os garçons, todo mundo se jogou no chão. Quando vimos que um senhor não se levantava, pensamos que tivesse sofrido um infarto. Quando o viramos, percebemos o tiro nas costas ¿ disse um dos funcionários do Balcony.

Edith Oliveira, de 31 anos, que estava passando pela Praça do Lido, foi atingida nas costas e levada, após meia hora esperando socorro, para o Hospital Miguel Couto, onde foi operada à noite. Também na praça, o tintureiro João dos Santos, de 62 anos, foi atingido de raspão no peito. Na Rua Ronald de Carvalho, já perseguido por mais policiais, o ladrão continuou atirando. O garçom Brás Arantes Dias, de 61 anos, 31 deles trabalhando no bar Flor do Lido, foi baleado na cabeça quando servia fregueses. Levado para o Hospital Miguel Couto, ele passou por uma cirurgia à noite.

¿ Ele estava servindo a mesa quando ouvimos os tiros. Deu tempo para eu me abaixar, mas ele não conseguiu ¿ contou uma das clientes, que não quis se identificar.

Ao chegar à Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o bandido rendeu o taxista Antonio Loureiro, de 72 anos. Assaltado pela quarta vez, ele contou que jamais tinha sofrido ato tão violento. Antonio disse que passava pela via quando foi abordado pelo bandido, que lhe apontava uma arma.

¿ Ele disse: ¿Acelera senão você vai morrer¿. Acelerei na medida do possível, mas o trânsito já estava ruim. Tentei tirar o cinto de segurança, mas ele disse que se eu saísse me matava. Continuei acelerando e rezando. Achei que fosse morrer.

O taxista contou que os policiais ¿ além dos que estavam a pé, havia o reforço de dois motociclistas da PM ¿ alcançaram o carro na altura da Avenida Prado Júnior. Ele disse que não viu o bandido atirar. Algumas testemunhas contaram que a morte do assaltante teve características de execução. Um administrador de empresas que estava num prédio em frente disse que viu três policiais cercando o carro. De acordo com ele, os policiais atiraram pelo menos oito vezes, sendo três tiros disparados contra a cabeça de Sudário.

Após a morte do ladrão, o trânsito na Nossa Senhora de Copacabana ficou confuso. Duas pistas foram fechadas para a perícia no carro e o corpo ficou estendido por pelo menos três horas no local. Como havia muitas pessoas no local, policiais chegaram a jogar spray de pimenta nos curiosos. Aproveitando o trânsito lento, um grupo de pivetes fez um arrastão na esquina com a Avenida Princesa Isabel. Houve pânico entre os motoristas e muitos abandonaram seus carros e saíram gritando pela rua.

http://www.oglobo.com.br/rio

COLABOROU: Cesar Tartaglia