Título: Banco Central anuncia mudança no comando de três diretorias
Autor: Patricia Duarte, Luciana Rodrigues e Ronaldo D'Erc
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Economia, p. 26

Troca atinge áreas de Assuntos Internacionais, Normas e Estudos Especiais

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Banco Central (BC) anunciou ontem a troca de diretores de três das suas oito áreas, sendo que dois executivos deixam a instituição e um terceiro será remanejado de função. Alexandre Schwartsman deixa a área de Assuntos Internacionais para voltar à iniciativa privada e Sérgio Darcy assumirá a presidência do Conselho de Administração do fundo de pensão do BC (Centrus), após nove anos à frente da diretoria de Normas. As mudanças foram atribuídas a desejos pessoais e não estão relacionadas às recentes mudanças no comando do Ministério da Fazenda.

Schwartsman já vinha dando sinais de que queria deixar o BC, pois já sentia cumpridas as duas principais tarefas que lhe foram confiadas: a reforma da legislação cambial, que eliminou as estigmatizadas contas CC-5, de transferências internacionais em reais, e a transferência da gestão da dívida externa para o Tesouro Nacional.

Para seu lugar foi indicado o economista Paulo Vieira da Cunha, que trabalhou no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e foi economista do Banco Mundial e da Secretaria de Planejamento do Estado de São Paulo, durante o governo Franco Montoro. Depois, trabalhou para o HSBC no exterior e, atualmente, leciona na Universidade de Columbia, em Nova York. Cunha receberá do presidente do BC, Henrique Meirelles, como uma das tarefas principais, cuidar da parte legal do projeto de reforma cambial que foi encaminhado ao Congresso Nacional, bem como do relacionamento com organismos multilaterais.

A decisão de Darcy também foi pessoal, uma vez que está há quase 40 anos no BC e já é aposentado. No seu lugar, já está trabalhando o até então diretor de Estudos Especiais do banco, Alexandre Tombini, para cujo cargo foi indicado o economista Mário Mesquita, atualmente no ABN-Amro. Mesquita trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Apenas por algum tempo, Darcy ficará na diretoria de Estudos Especiais, já que Mesquita e Silva terão de passar por aprovação no Senado. O diretor, após sair do BC, terá de cumprir quarentena antes de assumir o Centrus, o que deve acontecer no fim de agosto.

Assim como Darcy, Schwartsman ficará mais um tempo na diretoria de Assuntos Especiais. Ambos participarão da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 18 e 19 de abril, quando será discutido o rumo dos juros básicos, hoje em 16,5% ao ano. Como Tombini já foi aprovado pelo Senado para assumir a diretoria de Estudos Especiais, ele não precisa de novo aval.

Meirelles: BC não é muito agressivo nem conservador

Henrique Meirelles descartou mudanças na política monetária devido às trocas na diretoria da instituição.

¿ O BC simplesmente tem uma missão determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de cumprir a meta de inflação. E isso é muito importante para o Brasil. Isso é o mínimo que se espera de um banco central. O BC seria conservador se estivéssemos com uma inflação constantemente abaixo da meta, mas não, estamos com a inflação na meta. Portanto, é um BC que não é muito agressivo nem muito conservador ¿ disse Meirelles, que participou ontem do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse esperar que a nova equipe possa ajudar o país a obter um crescimento sustentado.

¿ Ninguém deve duvidar do sucesso do BC em conter a inflação. Com o ciclo completado e a inflação em linha com o centro da meta, até abaixo, as pessoas que vão compor agora a equipe podem pensar no passo seguinte, que pode ser ajudar a dar condições para que haja um crescimento sustentado -¿ disse ele, também no fórum.