Título: IGP-DI TEM DEFLAÇÃO DE 0,49%, APESAR DO ÁLCOOL
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Economia, p. 27

Queda generalizada de preços em março compensou alta de 14,19% do combustível, a maior dos últimos três anos

O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) recuou 0,49% em março, quando a taxa acumulada em 12 meses ficou em -0,29%, a menor da história do índice, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) desde 1954. Apesar da alta dos combustíveis, houve queda generalizada dos preços, especialmente no atacado. No varejo, o álcool subiu 14,19%, o maior aumento mensal captado pela instituição nos últimos três anos, e a gasolina, 2,46%.

Ao contrário de países como o Japão, onde a deflação está associada a uma longa crise econômica, no Brasil ela é resultado, principalmente, do câmbio e do aumento da oferta provocado pela colheita de diversos grãos como soja, arroz e milho. No caso do milho, a queda foi impulsionada ainda pela gripe aviária, que derrubou os preços do frango e da ração animal.

¿ A deflação, na verdade, é uma situação fora do normal. Pode ser sinal de recessão. Mas este não é o caso do Brasil, onde todos os indicadores são de que a economia está em expansão ¿ afirma o o coordenador de Análises de Preços da FGV, Salomão Quadros.

Segundo ele, a inflação brasileira ainda não é de Primeiro Mundo, mas caminha nessa direção. O Índice de Preços por Atacado (IPA), um dos três componentes do IGP-DI, saiu de -0,12% em fevereiro para -0,82% em março, com queda nos preços de 192 dos seus 490 itens.

Isso apesar do ligeiro avanço do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que passou de 0,01% em fevereiro para 0,22% em março. Este índice acumulou 3,79% de alta em 12 meses, mas, se a taxa de março fosse reproduzida por um ano, significaria um resultado inferior a 3%, equivalente à inflação dos Estados Unidos, da Inglaterra e de outros países da Europa.

¿ Não estamos falando de um produto só ou de um choque setorial, mas de uma tendência geral ¿ acrescentou.

No atacado, o câmbio derrubou os preços de 15 das 20 commodities agropecuárias pesquisadas, como soja (de -4,22% para -6,90%) e milho (de 0,37% para -10,57%). No conjunto, as matérias-primas brutas para a agropecuária saíram, de um mês para o outro, de -1,05% para -3,52%. Mas o álcool hidratado manteve o ritmo de alta (6,19% para 6,28%) e a gasolina saiu de -0,18% para 1,84%.

No varejo, maior alta foi do grupo Habitação e Transporte

A valorização do real também provocou queda de 0,46% nos preços dos materiais para manufaturas. Neste grupo, estão produtos como o eteno, usado pela indústria petroquímica para a fabricação de plásticos, com queda de 2,88%, as chapas de aço grossas, de 0,97%, e os vergalhões de cobre, de 1,25%. Os preços dos componentes industriais também caíram 0,31%. Entre eles, os pneus para caminhões, com recuo de 0,86%.

Os alimentos processados também ajudaram a puxar os preços do atacado para baixo (de 0,22% para -0,88%). Entre os destaques, o arroz beneficiado (-5,85%), aves abatidas e resfriadas (-11,31%), carne bovina resfriada (-4,93%) e óleo de soja refinado (-1,81%).

No varejo, cinco das sete classes de despesa componentes do IPC tiveram elevações. As maiores contribuições para o aumento do ritmo de alta partiram dos grupos Habitação e Transportes. No primeiro caso, a alta de -0,11% para 0,34% foi impulsionada pela taxa de água e esgoto residencial (de zero para 1,83%) e pela do gás de botijão (de 0,06% para 1,65%). Já a taxa dos Transportes passou de 0,98% para 1,43%, devido principalmente aos combustíveis e lubrificantes, com avanço de 1,21% para 3,77%.