Título: BOLSA DE SP REGISTRA NOVO RECORDE
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Economia, p. 27

Expectativa de maior corte nos juros faz dólar cair pelo sexto dia seguido

A forte queda da inflação apontada ontem pelo IGP-DI levou o dólar ao sexto dia consecutivo de queda e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) à sétima alta seguida, garantindo novo recorde histórico, diante da expectativa de uma aceleração nos cortes de juros. A moeda americana recuou 0,18%, para R$2,13, apesar de um novo leilão de compra de dólares pelo Banco Central (BC). Já a Bolsa subiu 0,59%, atingindo os 39.285 pontos. Com isso, quebrou o recorde anterior, estabelecido em março, de 39.239 pontos.

O risco-Brasil, calculado pelo banco americano JP Morgan, ficou estável em 238 pontos centesimais. A taxa corresponde à diferença entre os juros pagos pelos títulos dos EUA e os que o Brasil tem que oferecer para captar recursos.

As mudanças na diretoria do BC, anunciadas na manhã de ontem, também foram bem recebidas pelos investidores. Mas foi a queda da inflação concentrou as atenções dos aplicadores. O IGP-DI apontou deflação de 0,45% no mês passado, superando as estimativas dos investidores, que esperavam uma queda de 0,25% a 0,30%.

Emergentes captam US$1,2 bi na última semana de março

De acordo com Carlos Cintra, gestor de Renda Fixa do Banco Prosper, o dado reforça as expectativas de uma aceleração no ritmo de cortes da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom):

¿ Os números de hoje animaram bastante porque, junto com os dados de ontem do IPC-Fipe (que subiu 0,14%, bem abaixo das estimativas), mostram que a inflação está sob controle. Isso permite que o mercado aumente suas apostas num corte maior de juros embora eu, particularmente, não acredite em quedas fortes. Isso porque os gastos públicos têm aumentado este ano e, com isso, sobra pouco espaço para o BC ser ousado ¿ avalia Cintra.

Com dois índices mostrando a inflação controlada nos últimos dias, cresce a expectativa em torno da divulgação, hoje, do IPCA, que orienta o sistema de metas de inflação do governo. Mas não são apenas os juros brasileiros que preocupam. Investidores também estarão atentos, hoje, ao número de postos de trabalho nos Estados Unidos, buscando sinais sobre a trajetória das taxas nos Estados Unidos.

Os fundos que aplicam em ações de empresas de países emergentes encerraram a última semana de março com uma captação líquida de US$1,2 bilhão. No acumulado do ano, esses fundos atraíram o equivalente a US$23,3 bilhões em novos recursos, o que já supera largamente o total captado em todo o ano passado (US$20,3 bilhões). Os dados são da consultoria EmergingPortfolio.com, que monitora mais de dez mil fundos em todo o mundo, com mais de US$5 trilhões em ativos.

Apenas os fundos que investem em ativos do chamado BRIC ¿ Brasil, Rússia, Índia e China ¿ já captaram US$10,4 bilhões este ano. Segundo analistas, o movimento mostra que investidores aproveitaram a queda recente nos preços dos ativos (especialmente as ações listadas na Bolsa), devido à crise política.