Título: LULA DESCARTA RISCO DE INSTABILIDADE NA ECONOMIA COM A MUDANÇA NA FAZENDA
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 07/04/2006, Economia, p. 29

Presidente diz a empresários que manterá compromissos externos e internos

SÃO PAULO. Num discurso em que destacou resultados econômicos alcançados em sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu aos empresários e economistas que participavam do Fórum Econômico Mundial sobre América Latina que a estabilidade econômica do país não corre o risco de ser abalada. O recado foi interpretado como uma tentativa de dissolver rumores de que a saída do ministro Antonio Palocci pudesse dar uma guinada nos rumos da economia.

¿ Em todos os momentos históricos em que, em vez de um ministro da Economia ou da Fazenda, colocou-se um mágico, não deu certo.

Lula assegurou que o real não corre riscos. A estabilidade, disse o presidente, passa pela seriedade com que a economia interna é tratada.

¿ Não vamos tornar a nossa moeda mais frágil por decreto. Tem gente que só falta pedir para mim: `Presidente, faça um decreto aumentando o dólar?¿. Não vamos fazer (...) A estabilidade passa pela seriedade com que tratamos a economia interna. Portanto, não fizemos nem um gesto de fraqueza ao tomar a decisão de que iríamos manter os compromissos internos e os compromissos internacionais ¿ disse, sob aplausos.

Lula compara estabilidade do Brasil à família

O presidente afirmou que a estabilidade que deseja para o país é similar à que quer para sua própria família.

¿ Se fui capaz de constituir uma família estável, que já dura 32 anos, muito mais fácil será manter a estabilidade do país em mandato de apenas quatro anos.

Lula ainda mandou um recado aos governadores que teriam ajudado a emperrar a reforma tributária. Depois de discorrer sobre iniciativas de seu governo, criticou os que, segundo ele, falam muito, mas fazem pouco.

¿ Neste país fizemos um sacrifício premeditado, assumido. Não foi fácil chegar aonde chegamos. Não foi fácil resistir a gritos de companheiros metalúrgicos pedindo por maior salário. Não foi fácil ouvir empresários pedindo câmbio flutuante e depois reclamando porque o câmbio flutua. Neste país se fala muito e se faz pouco, se acha muito e se concretiza pouco ¿ disse, em discurso de 50 minutos.

Para Lula, o equilíbrio necessário não se produz em laboratório ¿nem decorre de lógicas autárquicas de gestão ou choques administrativos, tão artificiais e autoritários quanto o fetichismo estatizante do passado¿. Demonstrando bom humor, destacou os resultados obtidos durante sua gestão:

¿ O risco-país é dez vezes inferior ao que herdamos e as nossas reservas equivalem a quatro vezes o valor disponível daquilo que também herdamos. Em março, o fluxo do comércio exterior do Brasil atingiu o valor nunca antes alcançado de US$200,6 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.

Ainda no evento, em tom de brincadeira, Lula admitiu a possibilidade de não estar à frente do governo ano que vem. Explicando que não pôde participar da última edição do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça) porque à época o país passava por uma ¿programação intensa¿, fez piada:

¿ Ainda pretendo ir, como presidente ou sem ser presidente. Espero que o Fórum não tenha preconceito de convidar quem não é presidente.

Depois, criticou presidentes que deixam o governo e vão morar no exterior.

¿ Qualquer presidente da República, em qualquer país do mundo, tem o direito de errar, porque é normal errar. E até porque muitos, depois de governarem, nem ficam morando em seus países, vão morar em outros países. Eu, ao contrário, quando deixar a Presidência, voltarei para São Bernardo (SP). Não adianta me oferecer emprego que eu não vou ouvir, vou ficar em São Bernardo.