Título: PESQUISA: FLORES RECUPERA FAVORITISMO NO PERU
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 07/04/2006, O Mundo, p. 47

Outra consulta, porém, mantém Humala na liderança e campanha eleitoral termina em clima confuso no país

LIMA. Os candidatos à Presidência do Peru encerraram ontem suas campanhas em clima de absoluta indefinição. Após várias semanas de favoritismo do candidato nacionalista ¿ o ex-militar Ollanta Humala, da União pelo Peru ¿ a candidata da direitista Unidade Nacional, Lourdes Flores, recuperou o fôlego e voltou a ocupar o primeiro lugar numa pesquisa, criando mais confusão no país.

De acordo com a pesquisa da empresa CPI, Flores ¿ que no início da campanha chegara a ter mais de 40% das intenções de voto ¿ recuperou parte do terreno e subiu para 27,6%, contra 25,9% do polêmico Humala. Tornando ainda mais incerto o cenário, o ex-presidente e candidato pelo tradicional Partido Aprista Peruano, Alan García, ficou em terceiro lugar, com 24,9%, ou seja, praticamente empatado com Humala e menos de três pontos percentuais abaixo de Flores. Mas uma outra pesquisa, da empresa Apoyo, divulgada mais tarde, indicou Humala na liderança (31%), seguido de Flores (26%) e García (23%).

Segundo analistas, qualquer coisa poderá acontecer no domingo, quando 16 milhões de peruanos irão às urnas para eleger o sucessor do presidente Alejandro Toledo. O nervosismo tomou conta do mercado e a Bolsa de Valores de Lima voltou a fechar em queda, de 0,22%.

¿ A possibilidade de Humala (que defende uma revisão de contratos e a renegociação de tarifas, entre outras medidas) chegar ao segundo turno apavora investidores. Um eventual segundo governo de García também preocupa, porque em seu primeiro governo o Peru mergulhou na hiperinflação, a pobreza aumentou, o déficit fiscal disparou e a economia despencou mais de 20% ¿ explicou ao GLOBO o economista Daniel Cordova, diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Ciências Aplicadas, acrescentando que Flores ¿é a candidata mais bem vista no mercado¿.

Insegurança devido ao cenário eleitoral confuso

O clima tenso também abalou a classe média. De acordo com dados divulgados ontem, no primeiro trimestre de 2006 o Índice de Confiança do Consumidor caiu 4,4%, em grande parte devido à insegurança provocada pelo confuso cenário eleitoral.

Para o analista Manuel Saavedra, diretor do CPI, a queda de Humala se deveria à agressiva ofensiva de seus adversários, que nos últimos dias insistiram em assegurar que um governo dele levaria o Peru ao abismo.

¿ Acho que o eleitorado está começando a perceber o risco que representa Humala para o país ¿ afirmou o analista.

Ontem, os candidatos encerraram suas campanhas: Flores e García em Lima, onde são mais fortes, e Humala em Arequipa. Na véspera, o candidato nacionalista disse que não expropriará nem estatizará empresas.

¿ Somos um nacionalismo que se sustenta na liberdade de expressão ¿ enfatizou, tentando convencer os peruanos de que seu governo não será uma ditadura.