Título: PF pede ao Coaf que diga quem acionou órgão
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 08/04/2006, O País, p. 8

Delegado desconfia que Palocci teria ordenado a produção de relatório sobre a conta do caseiro Francenildo

BRASÍLIA e RIBEIRÃO PRETO (SP). O delegado Rodrigo Carneiro Gomes, da Polícia Federal, mandou ofício ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) pedindo explicações formais sobre o relatório que aponta a movimentação financeira atípica do caseiro Francenildo dos Santos Costa. O delegado quer saber quem acionou o Coaf e como o relatório foi produzido antes de ser encaminhado à PF. O relatório do Coaf, que reproduziu informações da Caixa Econômica Federal, foi o ponto de partida do inquérito que apura a origem dos R$25 mil em dinheiro recebidos pelo caseiro.

A Caixa enviou o relatório sobre ¿movimentação financeira atípica¿ do caseiro em 17 de março, sexta-feira, um dia depois de dois funcionários emitirem um extrato da conta a pedido do ex-presidente do banco Jorge Mattoso. No dia 20, uma segunda-feira, o Coaf repassou o relatório à PF. Em nota à imprensa quatro dias depois, o presidente do Coaf, Antônio Gustavo, informou que enviou o relatório à polícia sem acrescentar informações ao documento produzido pela Superintendência de Controles Internos da Caixa.

Ontem o Coaf divulgou nota dizendo que o pedido de informações da PF seria de ¿natureza estatística¿ e que não faz devassa em contas. E argumentou que aciona os órgãos competentes com agilidade.

Em depoimento à PF, Mattoso disse que soube da suposta movimentação atípica e pediu que um subordinado conferisse a denúncia. Ele não revelou como soube da movimentação.

Francenildo tem salário de R$700, mas estava com R$25 mil na conta. O dinheiro foi depositado no início do ano, antes do depoimento contra Antonio Palocci na CPI dos Bingos. A partir disso, Mattoso determinou que dois servidores da Superintendência de Controle Interno fizessem um relatório apontando se havia indícios de lavagem de dinheiro por parte de Francenildo e que remetessem o documento ao Coaf ¿ o que foi feito.

MP quer caseiro livre de apuração

A PF suspeita que Palocci acionou a Caixa e, em seguida, o Coaf para provocar a investigação sobre o caseiro. Em depoimento à CPI, Francenildo acusou Palocci de freqüentar em Brasília uma casa alugada por ex-assessores seus de Ribeirão Preto acusados de corrupção.

Ontem o procurador da República Vinícius Fernando Alves Fermino enviou parecer à 10ª Vara da Justiça Federal endossando o pedido de trancamento das investigações sobre a origem do dinheiro de Francenildo. O primeiro pedido foi formulado pelos procuradores Gustavo Pessanha Velloso e Lívia Tinoco. Para o Ministério Público, nada justifica apuração sobre o dinheiro recebido pelo caseiro.

O delegado da PF discorda e diz que é importante manter essa parte da investigação.

¿ O parecer que o delegado encaminhou à Justiça é muito bom ¿ comentou o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.

Para a PF, os procuradores pediram o fim das investigações sobre Francenildo para agradar à opinião pública.

O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antônio Valencise, e o promotor do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional), Daniel de Angelis, concluíram ontem que eram falsas as notas fiscais que a empreiteira Leão & Leão apresentou para justificar a saída de dinheiro de seu caixa e que teria sido utilizado para pagamentos de propinas ao PT. Valencise disse que deve ouvir Palocci entre os dias 19 e 20 de abril.

COLABOROU Jucimara de Pauda, especial para O GLOBO