Título: PT ainda tenta culpar PSDB pelo valerioduto
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 08/04/2006, O País, p. 11

Documento petista afirma que partido errou ao se envolver com métodos de financiamento que sempre condenou

SÃO PAULO. A direção nacional do PT errou ao permitir a terceirização das finanças do partido, a promiscuidade com personagens que funcionavam como caixas de campanha do PSDB e a contratação de R$20 milhões em shows na campanha de 2004, conforme avaliação da Comissão Política do Diretório Nacional. A crítica integra o documento ¿Conjuntura, tática e política de alianças¿, aprovado esta semana. Foi a base para a formulação das ¿Diretrizes para a elaboração do programa de governo do PT ¿ Eleição presidencial de 2006¿, texto organizado pelo assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia, divulgado ontem, que orientará o Encontro Nacional do partido, no fim do mês, em São Paulo.

¿Consideramos que foi um erro que alguns dirigentes do partido tenham terceirizado as finanças do partido, tomando sem consultar nenhuma instância partidária a decisão de se envolver com operadores financeiros do PSDB e com métodos de financiamento que sempre combatemos. Por sua tradição e convicção, o PT luta contra a corrupção e a apropriação privada de bens e recursos públicos. As acusações de corrupção contra membros do partido devem ser investigadas, garantida ampla defesa e, havendo comprovação, cabe punição rigorosa¿, diz o documento.

Com críticas mais ácidas ao PT, o texto ¿Conjuntura, tática e políticas de alianças¿, coordenado pelo secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, também será debatido no encontro petista, nos próximos dias 28, 29 e 30.

O texto de Garcia será o ponto de partida para o programa de governo de Lula nas eleições de outubro. ¿O último ano deste governo deve ser entendido como o primeiro ano do próximo. Os resultados concretos da ação governamental que estão aparecendo nestes primeiros meses de 2006 ¿ e que são claramente percebidos pela sociedade brasileira ¿ mostram que uma nova dinâmica está se impondo¿.

¿ O primeiro ano do segundo mandato se refere à conquista que foi obtida em três anos: bases econômicas que permitem uma nova forma de executar o orçamento federal, a redução consistente das taxas de juros e a possibilidade de construir um programa de governo para o próximo período adequado à continuidade daquilo que já foi feito e à melhoria e ampliação de programas importantes. Então, é esta a visão, de que concluímos em três anos um processo de transição importante para o país ¿ justificou ontem o presidente do partido, Ricardo Berzoini.

Com o foco na defesa das realizações do governo Lula, as diretrizes do programa de governo afirmam ainda que ¿não basta celebrar as realizações do governo e oferecer uma perspectiva de continuidade¿. O texto defende um ¿balanço franco¿ do governo. E prega um ¿retorno da esperança¿ contra o discurso da ¿decepção¿ que, diz o texto, a direita tenta disseminar e impor. Recomenda ainda uma ¿inflexão do discurso do governo¿. Segundo o autor, o governo não foi capaz, muitas vezes, de ¿traduzir em linguagem de esquerda os avanços que obteve, inclusive na política econômica¿.

Texto rejeita comparação com política econômica de FH

O documento critica a idéia de que Lula continuou a política econômica do governo Fernando Henrique. ¿A política econômica do atual governo não é continuidade daquela de FHC, como pretende a oposição e, candidamente, às vezes foi repetido por alguns no governo. Estando o país à beira do abismo, a equipe econômica atual teve de fazer aquilo que o anterior não fez para evitar ¿ como conseguiu ¿ a catástrofe.¿

Já o texto que analisa a conjuntura e trata da política de alianças defende ¿uma campanha eleitoral de polarização entre as forças populares e os setores neoliberais¿. Prega alianças eleitorais no primeiro turno com os partidos de esquerda da base parlamentar do governo. Fora do arco de esquerda, as alianças devem ser autorizadas pelo partido. Alianças com PFL e com o PSDB são proibidas.

O documento fala do período favorável ao avanço da esquerda política e social no continente, citando presidentes eleitos ligados à esquerda, como Lula, Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Nestor Kirchner (Argentina), Michele Bachelet (Chile) e Tabaré Vasquez (Uruguai). Afirma que esse caminho poderia ser aprofundado em 2006 com o resultado das eleições no Peru, México, Nicarágua, Colômbia, Venezuela e com a reeleição de Lula no Brasil. ¿(...) não podemos permitir o retrocesso que significaria a vitória da oposição neoliberal¿, afirma o documento.