Título: POLÍCIA INDICIA 37 POR VANDALISMO CONTRA ARACRUZ
Autor: Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 08/04/2006, O País, p. 13

Dezoito são apontados como mandantes, entre eles Stédile, coordenador do MST, e quatro estrangeiros

PORTO ALEGRE. A polícia gaúcha indiciou ontem 37 integrantes de oito movimentos de sem-terra (entre eles a Via Campesina e o MST) pela invasão e a depredação do laboratório e de viveiros da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro, a 56 quilômetros de Porto Alegre, no dia 8 de março. Além disso, pediu a prisão preventiva de seis deles que até agora não foram localizados. Entre os indiciados estão o coordenador nacional do MST João Pedro Stédile, apontado como um dos mentores do vandalismo, e quatro estrangeiros presentes na ação.

Crimes de dano qualificado e cárcere privado

Os 37 indiciados foram enquadrados nos crimes de dano qualificado e cárcere privado, cada um passível de pena de três anos de reclusão. O inquérito foi entregue no Fórum de Barra do Ribeiro sem apontar as fontes que financiaram a ação da Via Campesina.

¿ Chamou atenção, durante as investigações, a organização das pessoas que participaram da ação. Elas são muito preparadas e sabem o que estão fazendo ¿ disse o delegado de Camaquã, Rudimar Rosales.

A ação foi realizada no dia 8 de março por cerca de duas mil mulheres do Movimento das Mulheres Camponesas, integrante da Via Campesina. Elas participavam em Porto Alegre de um fórum sobre reforma agrária. As militantes chegaram ao Horto Florestal Barba Negra, da Aracruz Celulose, na madrugada de 8 de março, em 39 ônibus. Além de depredarem o laboratório e os viveiros, destruindo material genético desenvolvido há 20 anos, as manifestantes mantiveram dois seguranças detidos num ônibus e não permitiram que alguns motoristas deixassem os veículos.

A Aracruz calculou o prejuízo em cerca de US$20 milhões, incluindo perda de 15% na produtividade dos eucaliptos de seus reflorestamentos em decorrência da destruição do material genético e das mudas dos viveiros que já estavam prontas para o plantio.

O delegado Rosales dividiu os indiciados entre 18 pessoas que planejaram a ação ou o vandalismo, e outras 19 pessoas recrutadas entre assentamentos e acampamentos do MST mas que não exerceram papel de comando ou planejamento.

Segundo Rosales, a ação vinha sendo planejada ao menos desde novembro do ano passado. Disse que a busca e apreensão de documentos e computadores na sede da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais, e que também abriga a sede do Movimento das Mulheres Camponeses, foi fundamental para chegar ao nome de todos os envolvidos.

Rosales cita no inquérito o nome de sete entidades ligadas à Via Campesina que participaram do processo, do planejamento à execução. São, além do MST e do Movimento das Mulheres Camponesas, o Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento dos Atingidos por Barragens, a Pastoral da Juventude Rural, Comissão Pastoral da Terra e uma entidade que identificou pela sigla PAB.

Os estrangeiros indiciados foram a jornalista suíça Corinne Chantal Dobler, de 33 anos, que há um ano faz estágio no Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e que acaba de ter seu visto prorrogado por mais 180 dias; o espanhol Paulo Nicholson, da União Nacional dos Camponeses do País Basco; Henry Saragih, da União dos Camponeses da Indonésia; e Juana Ferrer, da Confederação Nacional das Mulheres Camponesas da República Dominicana. Os quatro estavam na Aracruz no momento em que as mulheres depredaram a empresa.