Título: O que pesa mais
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 10/04/2006, O GLOBO, p. 2

O favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o crescimento de Anthony Garotinho (PMDB) na pesquisa Datafolha mostram o quanto é limitada eleitoralmente a cruzada ética patrocinada pela oposição. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, estacionou no patamar de 20 pontos percentuais e sua candidatura ficou vulnerável a movimentos internos de desestabilização.

A recuperação eleitoral do presidente tinha sido detectada em dezembro pelo Instituto Sensus. As pesquisas revelam que para os brasileiros há mais coisas entre o céu e a terra do que as considerações de natureza ética. O presidente do Sensus, Ricardo Guedes, explica a força do presidente Lula, depois de onze meses de bombardeio pelas CPIs dos Correios e dos Bingos e baixas pesadas, como as dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci:

¿ A percepção comum é a de que todo mundo rouba na política. Sendo assim, passa a ser importante o que se faz pela população. O governo Lula oferece estabilidade da moeda, inflação baixa, aumentos do salário-mínimo acima da inflação nos últimos dois anos, ampliação do emprego e programas sociais.

Os números do Datafolha indicam que são grandes as chances de o presidente Lula vencer as eleições no primeiro turno. Revelam ainda que somente a presença de Garotinho nas eleições evitaria que ela seja decidida no primeiro turno. Mas os tucanos não desejam a candidatura Garotinho porque ela representa um risco à polarização PT x PSDB e tem potencial para tirar os tucanos do segundo turno.

¿ O resultado da pesquisa ajuda o Garotinho. É preciso superar os interesses regionais. Mas se ele chegar na convenção de junho com intenções de voto na casa dos 20 pontos percentuais, acho difícil impedir sua candidatura ¿ diz o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

O Datafolha indica ainda que o presidente Lula está blindado quanto ao escândalo mais recente, o da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Por tudo isso, especialistas dizem que a oposição precisa de uma nova agenda se quiser vencer as eleições de outubro. Ela precisa apresentar propostas concretas voltadas para a melhoria da vida da população. Além disso precisa reciclar, segundo um marqueteiro, o discurso de Alckmin, que tem proclamado que vai reduzir as despesas públicas, cortando no pessoal e no custeio ¿ item que inclui os gastos em saúde, educação, Previdência e nos programas sociais.