Título: PROCURADORES FARÃO OPERAÇÃO DE BUSCA
Autor: Evandro Éboli e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 10/04/2006, O País, p. 3

Ministério Público mantém em sigilo a medida e surpreende a Polícia Federal

BRASÍLIA. O Ministério Público Federal pediu e a Justiça Federal já autorizou uma operação de busca e apreensão na investigação que apura a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Os procuradores Gustavo Pessanha Velloso e Lívia Nascimento Tinoco pediram que as investigações tramitem em segredo de Justiça e não informam detalhes da operação. A busca deve ser realizada ainda hoje.

O pedido do Ministério Público surpreendeu a Polícia Federal, acionada sempre que há uma operação de busca. Ontem, a PF não havia sido informada da operação. Nem mesmo o delegado Rodrigo Gomes, que preside o inquérito sobre o vazamento do extrato bancário do caseiro. O pedido de busca e apreensão foi enviado à Justiça Federal na terça-feira passada. No final da tarde da última sexta-feira, a juíza Maria de Fátima Costa atendeu ao pedido dos procuradores, que no mesmo dia tiveram acesso ao despacho.

Desde o início das investigações, o delegado e os dois procuradores não conseguem se acertar. Conduzem apurações distintas e não se falam. Na última sexta-feira, os procuradores enviaram ofício à direção geral da PF pedindo acesso aos depoimentos tomados por Gomes. O policial informou a seus superiores que já havia enviado o inquérito à Justiça Federal naquele mesmo dia e que os procuradores poderão ter acesso quando os autos forem repassados a eles.

Procuradores e delegado divergem sobre investigar as contas do caseiro

Segundo policiais, os procuradores também teriam apelado à Justiça para determinar que o delegado fosse obrigado a repassar ao Ministério Público informações diárias sobre as investigações. Quando o inquérito foi instaurado, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pediu ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que designasse um procurador para acompanhar o assunto. Desde que foi instaurado no dia 21 de março, nenhum procurador apareceu para assistir aos depoimentos realizados na PF.

A disputa foi deflagrada quando o Ministério Público entrou com recurso para travar parte do inquérito. Os procuradores não querem que a PF investigue a origem dos recursos depositados na conta do caseiro. Alegam que não há indícios de lavagem de dinheiro. Para isso, enviaram à Justiça um pedido de hábeas-corpus, ainda não julgado.

A PF argumenta, no entanto, que primeiro é preciso investigar a versão do caseiro para os depósitos ¿ ele sustenta que recebeu o dinheiro de seu pai biológico, um empresário piauiense. Só com a confirmação do que diz Francenildo seria possível descartar alguma irregularidade nos repasses de dinheiro à conta dele na Caixa Econômica Federal.

Hoje, a juíza da 10ª Vara Federal deve decidir quem tem razão. Se a PF pode continuar investigando a origem dos depósitos na conta do caseiro, ou se o inquérito deverá se limitar à quebra ilegal do sigilo da conta na Caixa, como quer o Ministério Público. Na sexta-feira, o procurador da República Vinícius Fernando Alves Fermino enviou parecer à Justiça Federal endossando o pedido de trancamento das investigações sobre a origem do dinheiro de Francenildo.

Também aguardam julgamento pedidos de quebra de sigilo bancário e telefônico dos envolvidos na operação. A PF suspeita que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci seja o mandante. Ele teria repassado a ordem para o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, que acionou um assessor para providenciar uma cópia do extrato do caseiro. Mattoso revelou que entregou o extrato a Palocci. O ex-ministro admite, mas nega que o tenha divulgado à imprensa.