Título: SUZANE RICHTHOFEN DIZ SENTIR FALTA DA FAMÍLIA
Autor: Miguel Conde
Fonte: O Globo, 10/04/2006, O País, p. 8

Amigo orienta jovem que confessou ter ajudado no assassinato dos pais a chorar durante entrevista à TV Globo

Acusada de planejar e participar do assassinato de seus pais, Marísia e Manfredo von Richthofen, em outubro de 2002, Suzane Richthofen diz que gostaria de ter sua família de volta. A dois meses de seu julgamento, Suzane, de 22 anos, apareceu em entrevista exibida ontem pelo ¿Fantástico¿, da TV Globo, vestindo roupas infantis e comportando-se como uma pessoa perturbada mentalmente: com fala desarticulada e sujeita a sucessivas crises de choro. A câmera do programa, porém, captou conversas em que Suzane era orientada a se comportar dessa maneira.

¿ Chora ¿ disse em voz baixa Denivaldo Barni, um amigo da família Richthofen que abriga Suzane em sua residência no Morumbi.

Jovem diz que odeia ex-namorado, seu cúmplice

A jovem, que confessou à polícia ter aberto a porta de sua casa para que seu namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, matassem seus pais, disse sentir ódio de Daniel.

¿ Gostaria de voltar aos meus 15 anos para nunca ter conhecido ninguém daquela família ¿ disse, referindo-se aos Cravinhos. ¿ Ele sempre me dava muita droga, me mandava usar muita droga, cada vez mais. Isso foi acabando comigo. Ele falava: se me ama, usa ¿ afirmou.

A fala é muito semelhante a uma orientação que ela recebeu na segunda parte da entrevista, gravada em Ipiratina. Segundo peritos, a voz, que aparece em off, é do advogado Mário Sérgio de Oliveira:

¿ Diz que ele mandava. Que se amasse era para fazer.

A defesa de Suzane alegará no julgamento que os Cravinhos planejaram o crime. Os irmãos dizem que Suzane foi a mandante.

A primeira parte da entrevista foi gravada na casa de Barni. Usando pantufas e uma camiseta da Minnie, Suzane interrompeu diversas vezes a gravação, que durou 34 minutos. Num momento, disse que só voltaria a falar acompanhada por dois pássaros de estimação. Por onze vezes, escondeu o rosto como se chorasse. Mas em nenhuma delas havia sinais de lágrimas.

¿ Como é triste lembrar de toda a felicidade que vivi com meus pais, saber que isso nunca mais vai acontecer ¿ disse. ¿ Hoje vejo que era feliz e não sabia. Como queria minha mãe de volta, como sinto falta de um colinho, de um abraço.

Suzane luta pela herança dos pais assassinados

Pela lei brasileira, filhos que matam os pais não têm direito à herança. A família de Marísia, com quem vive o irmão mais novo de Suzane, Andreas, já deu entrada no processo de deserdação. Os advogados da jovem lutam para que ela não perca o direito. Na entrevista, Suzane falou sobre a família da mãe. Disse que não vê a avó por que seu tio não deixa.

¿ Ele não gosta de mim. Afastou todo mundo de mim.

A jovem afirmou ainda ter medo de sair de casa. Questionada sobre o motivo de sua apreensão, disse apenas:

¿ Não sei, tenho medo.

Perguntada por que seus pais haviam sido mortos, respondeu da mesma maneira:

¿ Não sei.