Título: O DIA DE HUMALA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 10/04/2006, O Mundo, p. 18

Projeção no Peru mostra nacionalista no segundo turno e luta acirrada pelo segundo lugar

Olíder nacionalista Ollanta Humala derrotou ontem partidos tradicionais, meios de comunicação e intelectuais peruanos, que nos últimos meses se uniram para impedir a vitória do candidato à Presidência pelo movimento União pelo Peru (UPP), um ex-militar que prometeu nacionalizar os recursos naturais, reformar a Constituição e renegociar os contratos com empresas multinacionais. De acordo com resultados parciais da empresa de consultoria Apoyo, com base no sistema de contagem rápida de votos (contabilizados 59,2% do total que integram a mostra), Humala ficou em primeiro lugar, com 30,9% dos votos. Sua adversária no segundo turno seria a candidata da direitista Unidade Nacional, Lourdes Flores, com 24,5%. O grande perdedor, segundo os resultados parciais da Apoyo, seria o ex-presidente Alan García, do Partido Aprista Peruano, que ficou em terceiro, com 23,3%.

No entanto, pesquisas de boca-de-urna realizadas por outras empresas de consultoria, como a Datum, indicaram que o segundo turno seria entre Humala (29,2%) e García (24,4%). Até o final da noite, analistas locais recomendavam cautela, pois ainda não estava claro quem disputaria o segundo turno com o líder nacionalista.

Apesar de tudo e de todos, ontem foi o dia de Humala. Mas o segundo turno, afirmam analistas, será uma eleição totalmente diferente e a união dos adversários pode impedir sua chegada ao poder.

O candidato do UPP, acusado de violar direitos humanos quando esteve à frente da base de Madre Mia, em 1992, protagonizou o incidente mais violento do dia. Acompanhado pela mulher, Nadine Heredia, ele foi verbal e fisicamente atacado por um grupo de opositores quando chegou à Universidade Ricardo Palma, no distrito de Santiago de Surco, zona nobre de Lima, para votar pela primeira vez em sua vida (membros das Forças Armadas votam pela primeira vez este ano). Os manifestantes atiraram pedras, vidros, garrafas plásticas e até frutas no candidato, aos gritos de ¿assassino¿.

¿ Fui vítima de uma emboscada política. Convoco o povo peruano para que não se deixe intimidar pelo bloco ¿todos contra Ollanta¿ ¿ reagiu.

Bate-boca com presidente

Depois de votar, Humala e a mulher ficaram presos na sala da universidade, já que o tumulto do lado de fora tornou impossível sua saída. O risco de violência era enorme e levou a uma operação de resgate para retirar o candidato. Após uma hora e meia de tensão, mais de 40 policiais, vários militares e observadores nacionais e internacionais formaram um cordão de segurança que acompanhou Humala e sua mulher até o automóvel que os levou de volta para casa.

¿ A democracia está seqüestrada, está em mãos de uma minoria que não quer perder privilégios e atua com violência diante da possibilidade de que o povo recupere sua dignidade ¿ enfatizou o líder nacionalista, que responsabilizou o presidente Alejandro Toledo e os candidatos Flores e García pelo incidente ocorrido. ¿ Nossos adversários estão desesperados.

Apesar das acusações, os ataques ao ex-militar foram condenados pelos demais candidatos e, também, pelo presidente da República.

O bate-boca entre Humala e Toledo começara mais cedo, quando o candidato questionou duramente o discurso do presidente no sábado. Segundo o líder nacionalista, o objetivo de Toledo foi prejudicá-lo horas antes das eleições. De fato, as declarações do presidente foram interpretadas por analistas locais como parte de uma campanha dos partidos tradicionais contra o candidato nacionalista.

¿ Vote na pessoa em quem você confiaria para entregar sua casa, que é a casa de todos ¿ declarou o presidente, em pronunciamento à nação.

Os 16 milhões de eleitores peruanos também elegeram 120 congressistas e cinco representantes do país no Parlamento Andino. De acordo com os dados divulgados ontem, nenhum partido terá maioria no Congresso.