Título: PLANOS E MAPAS
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 09/04/2006, O GLOBO, p. 2

Com o depoimento do ministro Márcio Thomaz Bastos ao Congresso, possivelmente no dia 18, estarão esgotados os desdobramentos políticos da quebra do sigilo bancário de Francenildo e da queda de Palocci. Restarão os aspectos policiais. É para uma nova fase do enfrentamento político, antes do início efetivo da campanha eleitoral, que andam se preparando governo e oposição.

Com o fim da CPI dos Correios e seu relatório devastador para o PT, com os processos de cassações chegando ao fim de forma decepcionante, a oposição terá consumido boa parte de seu arsenal acumulado contra o governo. Mas ela sabe que pode ser novamente ajudada pela irrefreável vocação dos petistas e governistas para entrar em labirintos tenebrosos. Até aqui, a oposição contou mais com as trapalhadas aliadas e com o trabalho da imprensa do que com a própria competência. Mas, salvo novo estrondo desta ordem, depois da Páscoa podemos ter uma estabilização, uma espécie de compasso armado para a campanha propriamente dita.

Mas ela só começa em julho, e com Copa do Mundo, só deve começar em agosto mesmo. Neste lapso de três meses e pouco, a oposição buscará manter o governo acuado, mantendo o fogo alto através da CPI dos Bingos. O governo, por sua vez, tentará de novo mudar de assunto, escapando da agenda de crise e de escândalos sucessivos.

¿ Depois de Márcio Thomaz Bastos temos ainda o sigilo bancário de Okamotto para descascar. Não vamos dar moleza ao Lula ¿ diz o líder do PFL, Rodrigo Maia.

Entre os tucanos, começa a haver divergências sobre a intensidade do ataque. Alguns receiam que uma overdose tenha o condão de fazer Lula de vítima. O próprio coordenador da campanha de Alckmin, Sérgio Guerra, tem falado na necessidade de combinar combate e proposição em doses certas. O programa de governo começará a ser produzido. De suas diretrizes, ainda não há sinal.

As próximas pesquisas também podem ajudar a baixar a temperatura. O Datafolha deve ter uma neste fim de semana e a CNT/Sensus será divulgada na terça-feira. Se elas indicarem crescimento de Alckmin, na linha da pesquisa Ibope que indicou seu favoritismo em São Paulo, apontando também o enfraquecimento de Lula em função do caso Palocci, a oposição ficará mais propensa a dirigir energias para suas construções eleitorais. Na terça-feira, por exemplo, haverá o encontro entre Bornhausen, presidente do PFL, Tasso Jereissati, do PSDB, e Michel Temer, do PMDB. Embora não acreditem em aliança oficial com o PMDB, tucanos e pefelistas farão o gesto para garantir as alianças regionais e pavimentar a estrada para o segundo turno. Ainda assim, não dá para falar em trégua.

Da parte do governo, Tarso Genro, ministro da Articulação Institucional, pensa que está próxima a hora de retomar a agenda legislativa no Congresso e o diálogo com setores aliados da sociedade que se afastaram no turbilhão da crise.

Às voltas com os julgamentos, a Câmara tem se limitado a votar medidas provisórias para desobstruir a pauta. Mas em breve, acredita o novo ministro, já será possível negociar a aprovação de projetos importantes que ali estão parados, como o estatuto das pequenas e microempresas, a lei de proteção à Mata Atlântica e a emenda contra o trabalho escravo. É mesmo uma vergonha que a votação destas duas propostas venha sendo adiada faltando tão pouco para a conclusão. Além do orçamento, há outras matérias paradas por lá. Independentemente dos objetivos políticos do governo, a Câmara deve estas votações à sociedade, já sabedora de que o segundo semestre será devorado pela campanha.

O outro plano do governo é tentar recuperar o diálogo com alguns segmentos sociais, inclusive com o empresariado. Tarso reassume a secretaria-executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e pretende recuperar o papel que ele teve no início do governo, de ponte entre os setores produtivos e o governo. O questionamento das metas de superávit e das taxas de juros, não admitidos pela Fazenda, acabaram por enfraquecer o CDES.

Um PT ainda zonzo pela cacetada que levou na CPI dos Correios começa a discutir, em seu site, o programa do governo para o eventual segundo mandato. Fala em estabilidade, crescimento, democracia e distribuição de renda.

Mas até agora, nenhum dos lados tem dito nada que prometa resgatar aquele mar de esperanças perdidas de 2002. O eleitorado parece ainda em estado de choque.