Título: LULA TENTARÁ PASSAR AO LARGO DA CRISE
Autor: Gerson camarotti e Maria Lima
Fonte: O Globo, 09/04/2006, O País, p. 4

Estratégia é explorar medidas como aumento do mínimo

BRASÍLIA. Com dificuldades para dar fim à crise que levou à demissão do ex-ministro Antonio Palocci e que ainda respinga no ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o presidente Lula decidiu que não reagirá pessoalmente às cobranças da oposição. Sua prioridade é pôr em prática uma agenda paralela à crise, com anúncios de medidas e projetos do governo, como o reajuste para as aposentadorias do INSS e o pacote agrícola. E também ações populares, como explorar o aumento do salário-mínimo e badalar a ida do primeiro astronauta brasileiro ao espaço.

Além disso, Lula tem mantido, e na última semana até intensificou, o ritmo de viagens pelo país para inaugurações de obras, nem que seja lançamento de pedra fundamental. Na semana passada, a agenda paralela e de candidato à reeleição levou o presidente a ficar três dias ¿ ou boa parte deles ¿ fora de Brasília: terça-feira em São Paulo, quarta na Bahia e, na quinta, São Paulo de novo.

Para o Planalto, é fundamental o presidente mostrar que o governo não está parado e tentar passar a imagem de que ele está acima das denúncias. Principalmente agora que a CPI dos Correios o isentou de responsabilidade no escândalo do mensalão em seu relatório final.

A estratégia para enfrentar a crise inclui medidas de impacto, como mudanças e reajustes no programa Bolsa Família, o que deve ser anunciado em breve, e ainda a aprovação de projetos de impacto parados no Congresso, como o Fundeb, que destinará mais recursos para a educação básica.

Lula foi obrigado a reconstruir o núcleo duro do governo. Agora, os colaboradores diretos, inclusive na análise diária dos problemas e da crise, são Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Tarso Genro (Relações Institucionais), como o novo coordenador político, Márcio Thomaz Bastos ¿ que desde o início da crise passa mais e mais horas no Planalto ¿ e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Este último faz a ponte com o PT, do qual é primeiro-vice-presidente.

No Congresso, a preocupação fundamental é com a CPI dos Bingos: é na ¿CPI do fim do mundo¿ que PFL e PSDB tentarão atingir seu governo até o último dia de funcionamento.

Na semana passada, Lula aliou a maratona de viagens a fatos com repercussão nacional. Na quarta-feira, voltou da Bahia para conversar com o astronauta Marcos Pontes. A transmissão foi cercada de cuidados pelo Planalto, inclusive com orientações para que Pontes ¿flutuasse muito¿ no momento da veiculação das imagens.

Com base em pesquisas, o governo avalia que há exaustão da população diante da avalanche de denúncias e que o governo deve continuar trabalhando e mostrando resultados.

Nesses primeiros meses do ano, Lula viajou tanto quanto no mesmo período do ano passado, quando já tinha começado a passar ao menos dois dias por semana fora de Brasília. Agora, tem passado até três dias fora.