Título: OPOSIÇÃO BATE FORTE PARA MANTER CRISE ATÉ JULHO; PT NÃO ACERTA CONTRA-ATAQUE
Autor: Gerson camarotti e Maria Lima
Fonte: O Globo, 09/04/2006, O País, p. 4

Para Lula, partido `está muito cabisbaixo¿; Berzoini quer debate de programa

BRASÍLIA. A guerra entre governo e oposição deve ficar ainda muito violenta e vai invadir o calendário eleitoral. Tucanos e pefelistas decidiram bater no PT e no presidente Luiz Inácio Lula da Silva até julho, quando começa formalmente a campanha política. Os dois partidos não vão pedir o impeachment de Lula, mesmo porque a eleição já está próxima, mas essa ameaça está sempre no ar.

Do outro lado, o Palácio do Planalto e os partidos da base governista, inclusive o PT, não conseguem acertar o passo do contra-ataque. Enquanto o núcleo do governo defende que o PT faça uma ação contundente de defesa do presidente Lula, petistas resistem a partir para o enfrentamento com a oposição. A estratégia do PT é ir para um debate programático e evitar ao máximo o confronto. O presidente Lula fez chegar o seguinte recado aos companheiros de partido:

¿ O PT está muito cabisbaixo, precisa reagir com mais agilidade e intensidade. O governo vai continuar governando.

¿ Nossa avaliação, baseada em pesquisas, é de que o excesso de ataques prejudica quem está batendo. Por isso, não há razão para priorizar esse assunto. A população quer ouvir muito mais quais são as propostas do que o bate-boca ¿ diz o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

¿Até julho, o presidente vai estar muito enfraquecido¿

Já o PFL e o PSDB decidiram a linha de ataque. Vão centrar fogo nos desdobramentos da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, no pagamento da dívida de Lula com o PT pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e na sociedade entre a Telemar e a Gamecorp de Fábio Lula da Silva, filho do presidente.

¿ Um pedido de impeachment é imprevisível. Vai depender muito mais da mobilização social. Não é objetivo da oposição. Nós vamos derrotar Lula nas urnas. Se for mantido o nível de desgaste atual do governo até julho, o presidente vai estar muito enfraquecido. Depois, o debate será intensificado na eleição. Lula tem um grande flanco aberto ¿ diz o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), cotado para ser vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin.

Agripino não descarta um desgaste ainda maior no episódio envolvendo Palocci e avalia até mesmo a possibilidade de o ex-ministro ser preso. A oposição está disposta a associar a imagem de Palocci às declarações feitas por Lula, na despedida, de que o ex-ministro da Fazenda era seu irmão. Nos comerciais de televisão, a oposição também vai continuar a associar Lula a antigos companheiros envolvidos em escândalos recentes.

¿Não teremos dificuldade para manter temperatura alta¿

O presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC), reforça que a artilharia da oposição não dará trégua ao governo até julho, quando começa para valer a campanha de rua. Uma das cartas na manga da oposição para manter a crise em fogo alto é a prorrogação da CPI dos Bingos.

¿ Não teremos dificuldade para prorrogar a CPI dos Bingos e manter a temperatura alta até julho. Não vamos esperar até o programa nacional do PFL, que é em junho. Até lá colocaremos outras ações em prática. O PT continuará tentando, sem sucesso, esconder os crimes do partido e do presidente. O caso Okamotto é o mais grave e nos concentraremos nele. É uma mentira deslavada que ele usou recursos próprios para pagar as contas do Lula. Logo provaremos que são recursos do valerioduto ¿ diz Bornhausen.

Outra estratégia é estimular militantes da oposição, que não têm tradição de ir para as ruas, a ocupar o espaço deixado pelos petistas.

¿ Agora é a estratégia de guerra. Estamos saindo da artilharia para a infantaria, com chumbo grosso diante de um adversário acuado. Passamos um pouco da fase da produção de provas do maior escândalo de corrupção do governo Lula. Agora é ir para as ruas. Este será o pior momento para o governo Lula ¿ diz o líder da Minoria, José Carlos Aleluia(PFL-BA), acrescentando: ¿ O PT está nocauteado, não tem militância, estão envergonhados, não vão botar a cara para defender o presidente Lula. Vamos dizer e provar que ele não montou um governo, mas uma organização criminosa. Caíram todos, falta cair o chefe.

No PSDB, a preocupação maior é isolar a figura do candidato Geraldo Alckmin. Os ataques contra Lula ficarão por conta do partido. Alckmin deve aparecer como um político propositivo para ficar preservado do desgaste dos ataques.

¿ Nossa ação no Parlamento tem um ambiente mais duro. Mas nosso candidato tem um estilo mais sóbrio e mais propositivo ¿ diz o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ).