Título: Oposição ansiosa
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 11/04/2006, O GLOBO, p. 2

A ansiedade é um veneno para candidaturas em germinação. Pode levar ao experimentalismo, à adoção de atitudes erráticas em busca da linha certa. A pesquisa Datafolha, mostrando estagnação da candidatura Alckmin num dos piores momentos para Lula, gera uma ansiedade entre tucanos e pefelistas, que pode ser agravada hoje se a pesquisa CNT/Sensus repetir o resultado.

Numa primeira reação em busca do acerto, ontem em Teresina Alckmin não falou em banho de ética mas em choque de gestão. Está visto que a mera pregação contra o descalabro moral do governo não é suficiente para abalar Lula. Mas para seduzir os eleitores, será preciso falar em algo mais concreto ou compreensível que ¿choque de gestão¿.

Lula caiu dois pontos percentuais e Alckmin, três, em relação à pesquisa de março do mesmo instituto. Dentro da margem de erro, mas proporcionalmente às intenções de voto de cada um, a queda de Alckmin foi maior. É verdade que o tucano foi atingido por denúncias mas Lula levou um tiro de canhão com o caso do sigilo bancário do caseiro Nildo e a queda de Palocci. Resistiu muito mais.

Para o analista Alexandre Marinis, da Mosaico Consultoria, todas as oscilações mostradas pelo Datafolha ficaram dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O que abala a oposição, diz ele, é a inalteração do quadro num dos piores momentos do governo.

¿ Nada mudou de meados de março para o começo de abril. Nem mesmo o desempenho de Garotinho, que oscilou três pontos para cima: de 12% para 15% na simulação central de primeiro turno. Mas esta oscilação também cabe na margem de erro de dois pontos percentuais, já que, em março, Garotinho tinha entre 10% e 14% e agora tem entre 13% e 17%. O fato de estar tudo como antes apesar de tudo é que gera esta agonia que pode ser nociva ¿ diz Marinis.

Mas mesmo dentro da margem de erro seu crescimento é significativo, numa pesquisa em que só ele cresceu. Isso, combinado ao fato de que na região Sul 55% dos entrevistados não apontam um candidato na pesquisa espontânea, sugere que parte do eleitorado continua procurando fugir à dicotomia PT- PSDB. Dentro do PMDB, a candidatura de Garotinho ganha força. Dias atrás ele dizia:

¿ Se eu chegar a 20% até junho, ninguém me tira.

Falta pouco.

Alguns tucanos voltaram a falar na substituição de Alckmin por Serra. Para outros, seria um desastre, confissão antecipada de derrota. Nem Serra talvez topasse, agora que o mesmo Datafolha reafirma sua chance de se eleger governador no primeiro turno. Rodrigo Maia, líder do PFL, traduz a ansiedade pefelista de outro modo:

¿ Eu poderia apontar algumas inconsistências da pesquisa Datafolha mas nem vou fazer isso porque nós, até agora, não dispomos sequer de um serviço próprio de pesquisas para monitorar a candidatura do Alckmin. Eu não teria como fazer comparações. Estamos atrasados na estruturação da campanha mas agora que já foi indicado o coordenador (Sergio Guerra), vamos acelerar.

Ele nega que a não indicação do vice até agora tenha a ver com hesitação do PFL em relação ao candidato.

¿ Nada disso. Já nos comprometemos oficialmente. O problema é interno, do PFL, que tem dois bons nomes (os dos senadores José Jorge (PE) e José Agripino (RN).

Rodrigo evita mas Sergio Rodini, da Engracia Consultoria, que presta serviços a Alckmin, aponta ¿estranhezas¿ na pesquisa. Por exemplo, o fato de ela atribuir a Alckmin, no estado de São Paulo, um favoritismo bem menor em relação a Lula (41% a 35%) que o apontado pela pesquisa Ibope do início deste mês, feita apenas no estado (46% a 28% a favor do tucano). Ou ainda o fato de Lula e Garotinho terem mais votos entre os que declaram preferir o PSDB como partido. A pesquisa CNT/Sensus deve clarear este quadro.

Para Marinis, apesar do mau desempenho de Alckmin, o Datafolha trouxe um dado alentador para a oposição, o aumento das expectativas negativas em relação à economia. Um fator que a oposição poderia explorar, além de manter o fogo alto contra Thomaz Bastos, Okamotto e Lula.