Título: Oposição faz Bastos esperar
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 11/04/2006, O País, p. 3

Ministro da Justiça tenta adiantar depoimento sobre Palocci mas só falará depois de Mattoso

Aoposição conseguiu impedir a antecipação do depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao Senado, que só deverá ocorrer mesmo depois da Semana Santa. Diante das suspeitas de que Bastos teria ajudado a montar a defesa do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, indiciado como suspeito de ter sido o mandante da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o ministro protocolou ontem petição se pondo à disposição dos senadores para depor ainda esta semana. A estratégia governista era garantir que Bastos se apresentasse hoje no plenário do Senado e, assim, esfriasse a crise deflagrada pela violação do sigilo.

¿ Como não há consenso para que o ministro venha esta semana, fica predefinido que o depoimento acontecerá na próxima semana ¿ disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), rebateu.

¿ Não há como a oposição dizer agora que não quer esclarecer os fatos. É do interesse do país que o ministro da Justiça acabe com qualquer suspeição que paire sobre ele. Parece que a oposição está agora com medo que o ministro esclareça tudo ¿ protestou Mercadante.

Pefelista quer ouvir Mattoso de novo

O líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), argumenta que seria importante que a CPI dos Bingos reconvocasse o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso antes de ouvir o ministro da Justiça. A expectativa é que Mattoso possa acrescentar detalhes sobre a participação de Bastos na montagem da defesa de Palocci, já que o ex-ministro da Fazenda continua negando que tenha dado a ordem para a violação do sigilo de Francenildo.

Mas a convocação de Mattoso só deve ser apreciada pela CPI dos Bingos na próxima terça-feira. Agripino sugere que o ex-presidente da Caixa seja ouvido na quarta-feira da semana que vem e o ministro da Justiça no dia seguinte. O problema é que seria véspera de um outro feriado, o 21 de abril, o que poderia empurrar o depoimento de Bastos para a semana subseqüente, garantindo à oposição mais tempo para manter a crise em ebulição. A orientação tanto do PFL quanto do PSDB é para que ninguém alivie Bastos no depoimento.

¿ O PFL acatará qualquer decisão da Mesa, mas adiantamos nossa preocupação caso o ministro da Justiça seja ouvido antes de Mattoso. É possível que ele seja obrigado a vir novamente ao Senado para esclarecer eventuais colocações que sejam colocadas pelo ex-presidente da Caixa. Temos o papel de investigar e vamos cumprir essa missão com isenção, sem aliviar com ninguém ¿ antecipou Agripino.

Amigo de Bastos, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) foi o único representante da oposição a defender no plenário do Senado a antecipação do depoimento do ministro da Justiça:

¿ Acho que o ministro tem de vir logo. No momento em que ele se oferece para vir, nossa obrigação é estar aqui ¿ defendeu.

O senador Tião Viana (PT-AC) minimizou o adiamento do depoimento de Bastos.

¿ O importante é que o ministro da Justiça está disposto a esclarecer qualquer dúvida seja hoje, amanhã ou em qualquer data que seja marcada ¿ afirmou Tião Viana.

A Polícia Federal não pretende chamar o ministro da Justiça para depor sobre a reunião que ele teve com Palocci uma semana depois da quebra do sigilo do caseiro. Para a PF, o encontro não teve qualquer reflexo na operação que resultou no vazamento das informações bancárias do caseiro Francenildo.