Título: IRÃ NA MIRA
Autor:
Fonte: O Globo, 12/04/2006, OPINIÃO, p. 6

Amaneira mais segura de não descobrir se os EUA pretendem atacar o Irã para destruir suas instalações nucleares é perguntar ao presidente George W. Bush. Como se sabe, o governo Bush tem horror a dar explicações ou a prestar contas dos seus atos. Mesmo que a pergunta seja feita pelo Congresso dos EUA, suspeita-se, a Casa Branca há de negar com veemência, chamando qualquer rumor a esse respeito de ¿especulação delirante¿. No máximo admitirá que o uso da força faz parte de sua estratégia para forçar o Irã a desistir de fabricar armas nucleares. Mas, a acreditar em relatos recentes da imprensa americana ¿ basicamente da revista ¿New Yorker¿ e do jornal ¿Washington Post¿, que citam como fontes funcionários e ex-funcionários do governo ¿ os planos para uma ação militar contra o Irã estão bem adiantados. Por ora o Pentágono e CIA não estariam pensando numa invasão por terra, apenas em lançar ataques aéreos contra alvos limitados, como as instalações para conversão e enriquecimento de urânio em Isfahan e Natanz. Na avaliação de Bush, a maior ameaça aos interesses americanos no Oriente Médio, ou em qualquer lugar do mundo, é o regime iraniano. Uma fonte citada pela ¿New Yorker¿ disse ao autor da reportagem, Seymor Hersh, um dos repórteres mais respeitados dos EUA, que a intenção do presidente é a mudança de regime em Teerã, entre outros motivos para ¿salvar o Irã¿ da República Islâmica. E acrescentou: ¿Isso leva à guerra.¿ Já os aiatolás acham que só desenvolvendo sua capacidade nuclear o Irã terá condições de defender-se. ¿Isso também leva à guerra.¿ É espantoso que esses planos sejam arquitetados em Washington enquanto o Iraque mergulha numa guerra civil desencadeada justamente pela ação militar vendida à opinião pública como redentora em todos os sentidos ¿ para os iraquianos, para o Oriente Médio e, indiretamente, para os EUA e o resto do mundo. Não faltam agora, como não faltaram antes da invasão do Iraque, chefes e especialistas militares que alertam para a possibilidade de nova catástrofe. Mas há o risco de a História se repetir, e Bush voltar a impor aos americanos sua política externa messiânica.