Título: Migrando para o interior
Autor: Luciana Rodrigues e Dicler
Fonte: O Globo, 11/04/2006, Economia, p. 35

Pesquisa mostra que desenvolvimento da economia fluminense está mais equilibrado

Estado em que, historicamente, o dinamismo econômico esteve concentrado no entorno da capital, o Rio de Janeiro viu, nos últimos anos, seu desenvolvimento migrar para o interior. E, daqui para a frente, a tendência é que os municípios da Região Metropolitana mais distantes da capital liderem o crescimento econômico. Essas são as conclusões de um estudo feito pela Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (Cide), do governo estadual, que será divulgado hoje.

A fundação calculou o Índice de Qualidade Municipal (IQM) para as 92 cidades fluminenses no ano de 2005. O índice mede o potencial para desenvolvimento e ainda aponta a capital como a primeira do ranking. Mas, graças ao petróleo do Norte Fluminense e à indústria automobilística e metal-mecânica do Médio Vale do Paraíba, municípios como Rio das Ostras, Armação de Búzios e Porto Real entraram na lista dos 20 melhores.

Porto Real, por exemplo, saltou 48 posições. Em 1998, quando foi calculada a primeira versão do IQM, estava no 55º lugar. Ano passado, já era o sétimo melhor município do estado. O avanço veio principalmente com a fábrica da PSA Peugeot Citröen, que começou a produzir em 2001. A montadora trouxe para a cidade ao menos sete fornecedores, diz o presidente da Fundação Cide, Ranulfo Vidigal.

Porto Real ganha com automobilística

No mesmo processo, outras indústrias se instalaram em Porto Real, como a fábrica de vidros planos para veículos Guardian e a Galvasud, da CSN, que produz chapas para automóveis. Este ano, a prefeitura vai instalar um novo pólo industrial na cidade, numa área de 500 mil metros quadrados, destinado a pequenas e médias empresas de autopeças, confecções e logística, principalmente.

¿ O pólo começa a produzir no próximo ano, numa área com infra-estrutura, fibra óptica, energia elétrica e gás em abundância ¿ explica o prefeito Jorge Serfiotis (PFL).

O potencial de Porto Real está atraindo até fornecedores da fábrica da Volkswagen, que fica em Resende. Em janeiro, a BMB começou a produzir o terceiro eixo para os caminhões e ônibus da montadora alemã, gerando 300 postos de trabalho. A Avaí, especializada em transportes de chassis, também opera em Porto Real, enquanto sua concorrente Poli concluirá as instalações em dois meses.

No Norte, o petróleo explica o avanço de Macaé, que subiu da quinta para a terceira posição no ranking. O município, segundo a Fundação Cide, começa a influenciar até cidades da Região Serrana que, antes, ficavam à sombra de Nova Friburgo, como Santa Maria Madalena, que viveu um boom imobiliário. Os royalties também favorecem cidades da Região dos Lagos, como Búzios e Rio das Ostras.

Ranulfo Vidigal, da Cide, destaca que, além do pólo metal-mecânico e do petróleo, a indústria naval na Costa Verde e em Niterói, as confecções em Friburgo e Petrópolis e até experiências isoladas, como a produção de cimento em Cantagalo, levaram a uma interiorização do desenvolvimento. Para o geógrafo Floriano de Oliveira, professor da Uerj, essa interiorização trouxe benefícios para a qualidade de vida no estado:

¿ A economia fluminense era historicamente industrial e concentrada na capital. Mas hoje a cidade do Rio se especializou em serviços, como turismo e telecomunicações. As indústrias estão indo para o interior e a periferia metropolitana.

Niterói avança e já rivaliza com o Rio

Na Região Metropolitana estão os municípios que, na avaliação de Vidigal, serão os destaques no IQM daqui para a frente. Ele cita grandes projetos industriais recém-instalados ou programados na região: os pólos siderúrgico em Itaguaí e gás-químico em Duque de Caxias, e a refinaria e o pólo petroquímico em Itaboraí. Este, aliás, deve influenciar os municípios em seu entorno, inclusive Niterói, que já concorre com a capital como referência na Região Metropolitana.

Em 1998, o IQM de Niterói era 29% menor que o do Rio. Em 2005, essa distância caiu para 19%. A cidade é a segunda no ranking geral, mas aparece em primeiro no critério qualidade da mão-de-obra.

¿ Niterói é um pólo de serviços que rivaliza com o Rio e será grande fornecedor de mão-de-obra para Itaboraí ¿ diz Ranulfo Vidigal.

A POBREZA NO NOROESTE FLUMINENSE, na página 36