Título: Dinamismo do interior não reduz pobreza no Noroeste Fluminense
Autor: Luciana Rodrigues e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 11/04/2006, Economia, p. 36

Já Quissamã passou de 45º para 24º lugar com investimentos sociais

Rico em algumas regiões, pobre em outras. Se o desenvolvimento migrou para o interior, uma área continuou esquecida: o Noroeste Fluminense, única região do estado que não apresenta sequer um município na lista dos 20 melhores no Índice de Qualidade Municipal (IQM). O presidente da Fundação Cide, Ranulfo Vidigal, diz que a área continua dependente de repasses dos governos federal e estadual, assim como de recursos da assistência social, como a aposentadoria rural. Sua economia, baseada na agropecuária pouco competitiva, não conseguiu se reciclar.

¿ É uma preocupação. O Noroeste precisa buscar rapidamente uma vocação natural, se não vai continuar perdendo sua população para outras cidades ¿ afirma Vidigal.

Cidades como Varre-Sai, São José do Ubá, Aperibé e Laje do Muriaé aparecem nos últimos lugares no ranking do IQM. Aperibé foi o município que mais perdeu posições de 1998 a 2005: saiu do 43º para o 79º lugar. A cidade vive da cafeicultura.

¿ É o típico município que não conseguiu sair da atividade agrícola tradicional, assim como muitos na região ¿ diz o presidente da Fundação Cide.

Piraí avança com projeto de inclusão digital

Vidigal defende incentivos fiscais e de crédito para atrair investimentos para a região. Para ele, é preciso capacitar pequenos e médios empreendedores locais para aumentar o valor agregado da produção agropecuária. Ele cita, como exemplo, a industrialização do leite ou a fruticultura irrigada.

Professor da UFF de Economia Regional, Franklin Dias Coelho afirma que os números da Fundação Cide mostram a concentração de investimentos em poucos municípios:

¿ Porto Real, com o pólo industrial, e Rio das Ostras, com os royalties, foram beneficiadas por um processo de concentração de recursos. A grande pergunta é quanto desse desenvolvimento consegue se propagar para outros municípios. Isso acontece com outras cidades que recebem royalties do petróleo, receita com data marcada para acabar. Os investimentos localizados acabam acirrando diferenças regionais.

Ele cita Piraí, a 11ª do ranking (subiu duas posições de 1998 a 2005), que se desenvolveu sem recursos externos apostando no projeto de inclusão digital. Com apenas 23 mil habitantes, passou Barra Mansa e Cabo Frio e está à frente de cidades médias como Petrópolis, Nova Iguaçu e Teresópolis.

Enquanto Piraí apostou no mundo digital, Quissamã se destaca como o município que melhor aproveitou os royalties do petróleo, na avaliação de Vidigal, da Cide. Além de calcular o IQM de cada município do estado, a fundação também avaliou as cidades por grupos de desenvolvimento. Em 1998, Quissamã estava no grupo D, sete anos depois saltou para a classe B. Foi o único município do estado com avanço tão grande. No ranking do IQM, a cidade saiu do 45º para o 24º lugar.

Para o prefeito Armando Carneiro (PSC), o segredo foi usar o dinheiro do petróleo para investir em educação, saúde e saneamento. Em 1997, a cidade tinha só 2% dos domicílios com esgoto tratado. Hoje, diz ele, em 100% dos lares urbanos há tratamento de esgoto.

¿ Todos os moradores estão cadastrados no Programa Saúde da Família e há educação desde a pré-escola até a universidade, pois damos bolsa de 100% para nossos estudantes que passam no vestibular em outras cidades ¿ conta.

Com os investimentos sociais já realizados, a cidade agora quer se preparar para quando o petróleo e os royalties acabarem. O Plano Diretor do ano passado prevê a criação de Zonas Especiais de Negócios. Já foi feita a licitação para instalar, numa dessas zonas, três indústrias: de laticínios, açúcar mascavo e metalurgia. O município doa terrenos e, em alguns casos, cede galpões em comodato, para atrair os investidores.

Impasses políticos podem atrapalhar desenvolvimento

As outras zonas especiais serão destinadas à pesca, às atividades offshore de petróleo e à fruticultura irrigada. O prefeito Armando Carneiro afirma ainda que o município está tentando atrair usinas de álcool e açúcar, vocação antiga da região que pode se beneficiar do recente boom do setor. Segundo o prefeito, já há dois grupos interessados em se instalar em Quissamã.

Franklin Dias Coelho, professor da UFF, alerta que muitas vezes os impasses políticos paralisam o desenvolvimento de alguns municípios:

¿ Há problemas políticos que ainda não apareceram nos dados, mas podem prejudicar. As cidades de Vassouras, Paracambi e Campos tiveram três prefeitos nos últimos anos.