Título: Para Meirelles, crise das eleições de 2002 não se repetirá este ano
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 11/04/2006, Economia, p. 37

Presidente do BC afirma que economia hoje está menos vulnerável

SÃO PAULO. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, descartou ontem a possibilidade de a economia brasileira voltar a enfrentar turbulência igual à de 2002 por causa das eleições este ano. Segundo ele, a economia do país hoje está mais equilibrada e menos vulnerável do que naquela época, em que os temores de uma vitória do então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva levaram a uma disparada do dólar e a fortes desequilíbrios nas contas externas do país.

¿ A economia hoje está ancorada em bases mais sólidas e as condições são muito diferentes ¿ disse Meirelles, durante almoço com dirigentes de empresas francesas no Brasil, em São Paulo.

Depois de apresentar uma série de indicadores que comprovariam a menor vulnerabilidade da economia brasileira hoje, Meirelles reafirmou que o país superou a fase das crises sucessivas e que, por isso, o debate agora deve se voltar para o crescimento da economia:

¿ Na medida em que saímos desse padrão de crises periódicas, podemos discutir efetivamente como o país pode crescer a taxas mais elevadas no futuro.

Em resposta às críticas de que as taxas de juros brasileiras são excessivamente elevadas, Meirelles lançou mão das ¿taxas reais médias de longo prazo do mercado¿ financeiro, que entre 1997 e 1999 eram de 21,4% ao ano, recuaram para 15,2%, entre 2000 e 2003, para 11,4% nos dois anos seguintes, e apontam para 10,4% este ano.

¿ O Brasil está no caminho certo, dando um passo atrás do outro, sem dar passos maiores que as pernas e descarrilar o trem ¿ afirmou Meirelles.

Meirelles não quis comentar sobre fim dos juros altos

Mas quando foi perguntado por um executivo até quando o país teria de conviver com juros reais superiores a 10%, o presidente do BC afirmou que sua posição não permitia comentários sobre a condução da política monetária e tergiversou:

¿ A trajetória dos juros é cadente e se mantivermos a política de inflação na meta, com a geração de superávits fiscais, certamente as taxas de longo prazo no Brasil serão decrescentes.

Meirelles voltou a confrontar o desempenho da demanda agregada (indicador da intenção de consumo da população), que cresceu 3,2% em 2005, à expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país), de apenas 2,3%. A modesta evolução do PIB se deveria, segundo ele, a duas razões: a quebra da safra agrícola e um processo de ajuste de estoques da indústria.

¿ O importante é que, olhando pelo ponto de vista da demanda, o crescimento (da economia) é sólido e sustentado ¿ afirmou.

A outro empresário, que lhe pediu que listasse três ações fundamentais para o próximo presidente manter a economia no rumo do crescimento, Meirelles afirmou que as prioridades passariam por levar adiante ¿as reformas fundamentais¿, sem dizer quais seriam estas, e investir mais nas áreas de infra-estrutura e educação.