Título: A LONGA DEMORA DE LULA PARA DEMITIR PALOCCI
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 12/04/2006, O PAÍS, p. 13

Bastos dirá no Congresso que avisou ao presidente no dia 21 que o caso era muito grave

BRASÍLIA. No depoimento que dará ao Congresso na próxima terça-feira, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai revelar que cinco dias após a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa avisou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o caso era grave. Bastos foi além. Alertou que não era possível prever onde as investigações da Polícia Federal iam parar. Bastos teve nova conversa com Lula na noite do dia 23 . Disse que a situação do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, era insustentável. Naquele mesmo dia, Bastos tinha participado de uma reunião com Palocci, o então presidente da Caixa Jorge Mattoso e o advogado Arnaldo Malheiros. Ontem, diante das resistências da oposição no Senado para ouvir Bastos, foi fechado um acordo na Câmara para que o ministro preste depoimento no plenário da Casa na próxima terça-feira. Lula concordou com Bastos, mas a decisão final sobre a demissão de Palocci só foi tomada quatro dias depois. Na noite do dia 23, Lula chegou a chamar Palocci ao Palácio do Planalto. ¿ Vamos esperar até segunda-feira ¿ teria dito. Até ali, havia a esperança no núcleo de coordenação política que ainda seria possível encontrar uma saída honrosa para Palocci, então o ministro mais poderoso. Mas o plano fez água e o presidente teve que pôr fim ao arrastado processo de demissão de Palocci quando, na noite de domingo, 26, três funcionários da Caixa prestaram depoimento à Polícia Federal e, espontaneamente, revelaram a cadeia de comando que levou à quebra do sigilo. Depois das revelações, Mattoso fez chegar aos ouvidos de Lula que assumiria a ordem que dera aos funcionários para acessar a conta do caseiro, mas não se responsabilizaria pelo vazamento das informações. Mattoso deixou claro que mencionaria o nome de Palocci no depoimento à PF. Pouco antes do início do interrogatório de Mattoso, Lula anunciou a saída de Palocci. Thomaz Bastos dirá aos senadores também que foi informado pela primeira fez do interesse de Palocci em acionar a PF para investigar o caseiro na tarde do dia 17, um dia depois da quebra do sigilo. O chefe de Gabinete do Ministério da Justiça Cláudio Alencar telefonou para Bastos e, que estava em Rondônia desde a noite anterior e, numa breve conversa, disse que Palocci tentou, sem sucesso, que a PF abrisse um inquérito para investigar Francenildo. Bastos argumentará que, em nenhum momento, foi informado sobre o extrato emitido ilegalmente. O ministro argumentará ainda que, quando soube pelo site da revista Época da invasão da conta, decidiu imediatamente mandar a PF abrir inquérito para investigar o caso. A ordem foi dada ao diretor da PF, Paulo Lacerda, na tarde de domingo, apenas três dias depois da invasão da conta do caseiro.

Francenildo pedirá indenizações milionárias

O caseiro Francenildo pedirá à Justiça indenizações milionárias por danos morais. O advogado de Francenildo, Wlício Chaveiro Nascimento, disse ontem que pretende ajuizar na segunda-feira uma ação contra a Caixa e outra contra a União. Ele evitou dizer o valor da indenização que vai sugerir à Justiça Federal, mas adiantou que será bem acima de R$1 milhão.