Título: ITÁLIA PRENDE CHEFÃO MAIS PODEROSO DA MÁFIA SICILIANA, FORAGIDO HÁ 42 ANOS
Autor:
Fonte: O Globo, 12/04/2006, O MUNDO, p. 36

Bernardo Provenzano, conhecido como o Fantasma de Corleone, estava escondido numa fazenda e foi apanhado pela polícia ao receber um pacote de roupa limpa enviado pela mulher

PALERMO, Itália. Foi preso ontem escondido numa fazenda nos arredores de Corleone, na Sicília, após 42 anos foragido da Justiça italiana, o chefão mais poderoso da máfia siciliana, Bernardo Provenzano, cujo rosto era desconhecido tanto da polícia como de boa parte de seus próprios capangas. Conhecido como o Fantasma de Corleone, ele vinha dirigindo a Cosa Nostra desde a prisão de Toto Riina em 1993 e fora condenado à revelia a seis penas de prisão perpétua por uma série de crimes, entre eles os assassinatos dos juízes antimáfia Paolo Borsellino e Giovanni Falcone em 1992. A polícia chegou a Provenzano rastreando um pacote com roupa limpa que sua mulher lhe enviara. Cerca de 50 agentes cercaram a fazenda e o prenderam sem resistência. Após uma breve negativa, ele admitiu ser o homem mais procurado da Itália. Com ele foram encontradas notas criptografadas que usava para se comunicar com seus capangas e sua família, pois era contra o uso de celulares. As últimas fotos que as autoridades dispunham do chefe mafioso eram de quando ele tinha cerca de 25 anos ¿ ele está com 73 ¿ e simulações em computador de seu rosto desde 1996 vinham sendo utilizadas na sua procura, com base em informações de Nino Giuffré, braço-direito do chefe mafioso que se tornou informante da polícia. Médicos e enfermeiros de um hospital em Marselha, na França, onde ele foi operado da próstata com outra identidade também colaboraram para elaborar seu retrato-falado.

Promotor acusa políticos de esconder Provenzano

A prisão de Provenzano foi o maior golpe na máfia nos últimos 13 anos. Sua habilidade para escapar da polícia por tanto tempo, mesmo permanecendo na Sicília, o tornou uma figura lendária. Até a mulher e seus dois filhos tiveram poucas oportunidades de vê-lo ao longo dos anos. ¿ Graças a Deus a caçada finalmente terminou ¿ comemorou o chefe de polícia de Palermo, Giuseppe Caruso. O promotor nacional antimáfia, Pietro Grasso, acusou empresários e políticos de ajudarem a esconder Provenzano. O magistrado disse duvidar que ele denuncie outras pessoas ou que colabore com as autoridades. O chefe mafioso foi levado de avião para a capital da Sicília envolto num forte esquema de segurança. Cidadãos de Palermo cercaram a delegacia principal da cidade e o receberam com vaias, assobios, xingamentos e gritos de ¿assassino¿ e ¿bastardo¿. ¿Nós somos a Sicília verdadeira¿, cantava um grupo de jovens de uma associação antimáfia. Segundo o ministro do Interior, Giuseppe Pisanu, a Cosa Nostra recebeu um golpe certeiro com a prisão de seu chefe. ¿ O Estado obtém uma vitória de importância decisiva. Investigadores dizem que Provenzano ¿ conhecido no passado como Trator por causa da maneira brutal como se livrava dos adversários quando era pistoleiro a soldo do clã Corleone ¿ instituiu uma maneira ¿mais gentil¿ de dirigir a Cosa Nostra, para chamar menos atenção da polícia. No entanto, ele chegou a usar ácido para dar fim a seus inimigos. Por duas vezes nos últimos anos a polícia italiana esteve perto de prender o chefe mafioso. Uma delas, no fim da década de 1990, quando ele foi parado numa blitz policial numa estrada sem que os agentes o reconhecessem, deixando-o partir. Na outra, em 2001, escapuliu minutos antes da chegada da polícia ao esconderijo na zona rural da Sicília onde estava. As autoridades agora especulam quem será o novo chefe da máfia. Uma possibilidade é Salvatore Lo Piccolo, foragido desde 1983. Outro nome é o de Matteo Messina Denaro, procurado desde 1993.