Título: MORALES ENFRENTA ONDA DE PROTESTOS
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Fonte: O Globo, 12/04/2006, O MUNDO, p. 39

Presidente da Bolívia diz que manifestações querem desestabilizar o governo

LA PAZ. Menos de três meses após assumir o governo da Bolívia, o presidente Evo Morales enfrenta uma onda de protestos em várias regiões do país. Desde a semana passada, greves no sistema de transportes, da área de saúde pública, de funcionários de uma empresa aérea e de mineiros têm mobilizado milhares de trabalhadores. Apesar da crise, Morales afirmou ontem que não cederá às pressões. ¿ Por trás dos conflitos há uma mão negra que quer desestabilizar o governo ¿ disse o presidente. A onda de protestos começou na semana passada, depois que os trabalhadores da área de transporte fizeram uma greve em todo o país contra o pagamento de impostos. A este movimento se uniu esta semana o dos funcionários da saúde pública. Eles pedem um aumento de 10% de seus salários, mas o governo oferece apenas 7%. Morales afirmou ontem que não tem como chegar ao aumento que pedem os trabalhadores, mas lembrou que a proposta governamental daria a eles o maior aumento dos últimos cinco anos. No departamento de Cochabamba houve também uma paralisação de várias áreas, inclusive do funcionarismo público, em solidariedade aos empregados da empresa aérea Lloyd Aéreo Boliviano (LAB), uma ex-estatal que está semiparalisada por causa de dívidas. O movimento exige uma intervenção do Estado para impedir que a LAB quebre.

Presidente acusa dono de empresa aérea de corrupção

Evo Morales, no entanto, nega-se terminantemente a apoiar a empresa. Acusando o presidente da LAB, o empresário Ernesto Asbún, de corrupção, ele afirmou que quem deve cobrir as dívidas da companhia são seus acionistas. A LAB tem dívidas de US$170 milhões (R$365 milhões). Em outro protesto, os trabalhadores da mina de São Cristóvão a tomaram e interromperam os trabalhos de extração de prata, zinco e chumbo ontem. Mas neste caso, em vez de as manifestações serem voltadas contra o governo, os trabalhadores protestam contra o que consideram ser um número excessivo de funcionários estrangeiros contratados, principalmente peruanos e chilenos. Semana que vem, os sindicatos de professores e funcionários da saúde pública planejam fazer novas greves. A Central Operária Boliviana exige, além de aumentos de salários, a nacionalização das reservas de petróleo e gás natural.