Título: Ganhar tempo
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 15/04/2006, O GLOBO, p. 2

O candidato do PMDB à Presidência da República, Anthony Garotinho, está trabalhando para evitar que o partido tome uma decisão sobre as eleições em 19 de abril. Seu objetivo é esvaziar o encontro, que pretende reunir candidatos aos governos estaduais e presidentes de diretórios regionais, na medida em que ele não tem conseguido ampliar o apoio à sua candidatura.

Nos últimos dias, Garotinho reuniu-se com candidatos em diversos estados para debater formas de superar as dificuldades impostas pela manutenção da verticalização. Em alguns casos, como no Mato Grosso do Sul, obteve êxito. Lá, o candidato André Puccinelli acha possível fazer uma coligação informal com o PSDB. Os tucanos o apoiariam para o governo e o PMDB faria campanha para Marisa Serrano para o Senado. Em outros, como na Paraíba, a conversa não evoluiu. Mesmo depois da decisão do PT local de lançar candidato próprio, o senador José Maranhão continua apostando numa aliança com os petistas. Se isso ocorrer ele não poderá propor uma coligação branca. O PMDB tem candidato ao Senado, o líder da bancada Ney Suassuna. Maranhão quer oferecer a vice para o PT e isso só poderá ocorrer com uma aliança formal.

Como as negociações de alianças nos estados continuam em andamento, Garotinho quer postergar a data da confirmação ou não da candidatura do PMDB para junho. Até lá pretende manter seu roteiro de viagens pelo país na expectativa de subir nas pesquisas de intenções de voto. Acredita que este poderá ser um sólido argumento para convencer os caciques do partido a ceder no plano regional. O lançamento da candidatura de Itamar Franco, pelo presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia, virou um álibi para a ação protelatória de Garotinho. A entrada de Itamar também inibe as tentativas de aproximação com o PSDB e o PFL, partidos com quem o PMDB tem o maior número de coligações nos estados.

A novela do PMDB deverá durar até junho. Garotinho não abre mão de ir à convenção. Os tucanos acompanham de perto e querem, no mínimo, que o partido tenha candidato. Seria uma garantia de que as eleições teriam dois turnos. Para os petistas, cujo candidato, Lula, lidera as pesquisas de intenções de voto, o melhor é que o PMDB não concorra. Pois há muita identidade entre os eleitores de Lula e Garotinho. Se o PMDB não tiver candidato, os governistas acreditam que Lula herdará a maioria desses votos.