Título: Fiel da balança
Autor: Ilmar Franco
Fonte: O Globo, 17/04/2006, O PAÍS, p. 2

Mesmo que não consiga ter um candidato à Presidência da República, o PMDB terá um papel relevante no próximo governo. O partido deve eleger de 10 a 12 governadores, fortes bancadas na Câmara e no Senado e será convidado a participar do futuro governo, seja ele do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do candidato da oposição, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Depois do escândalo do mensalão, tanto os dirigentes do PT quanto os da coligação PSDB-PFL preferem uma aliança com um grande partido, do que montar uma base parlamentar com partidos médios. Isso foi feito no governo Lula e o resultado é conhecido. É com essa perspectiva que muitos dirigentes regionais do PMDB são contrários à candidatura própria. Eles não querem dar a condição de negociador para um candidato, como Anthony Garotinho, que eventualmente venha a ter uma votação expressiva no primeiro turno das eleições. O ideal para esses caciques é que o futuro governo negocie o apoio diretamente com cada um deles. O senador José Sarney (PMDB-AP) costuma dizer, com alguma ironia, que (com a manutenção da verticalização) o partido está mais unido do que nunca. O partido continua dividido entre governistas e oposicionistas, mas já não existe a tensão dos primeiros três anos do governo Lula. Os líderes das duas alas, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), têm conversado muito sobre o futuro do partido e sua inserção na sustentação do próximo presidente. Seus dirigentes falam abertamente que querem um governo compartilhado, nos moldes do que ocorre na Alemanha, onde democratas-cristãos e social-democratas dividem o governo. O papel do PMDB será maior caso o presidente Lula seja reeleito, à medida que o PT, e seus aliados, não devem, de acordo com as pesquisas de intenções de voto, eleger mais de seis governadores. O mais importante deles seria o do Ceará com a eventual eleição de Cid Gomes, do PSB. Em caso de vitória de Alckmin a margem de manobra seria maior, pois seu êxito viria acompanhado de vitórias em estados importantes: dos tucanos em Minas Gerais e São Paulo e dos pefelistas na Bahia e em Pernambuco. Mas nem Lula nem Alckmin poderão prescindir de um entendimento com os governadores, pois quem for eleito terá de enfrentar um tema delicado e sobre o qual eles não querem falar na campanha: a realização de uma nova reforma da Previdência.