Título: Bastos tenta vencer crise
Autor: Cristiane Jungblut e Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 17/04/2006, O PAÍS, p. 3

`Depoimento será o grande júri da vida dele¿, compara o líder tucano Arthur Virgílio

Na expectativa de encerrar a polêmica em torno da sua participação no episódio de violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai ao Congresso nesta semana explicar o que ele e dois de seus assessores diretos foram fazer na casa do então ministro Antonio Palocci, apontado como o mandante do crime. No Palácio do Planalto, a expectativa é que Bastos conseguirá sair do centro da crise. Entretanto, o depoimento do ex-presidente da Caixa Econômica Jorge Mattoso à CPI dos Bingos ainda é visto com receio. O governo teme alguma nova informação sobre a operação que resultou no vazamento dos dados, acirrando os ânimos da oposição. O PFL quer que Mattoso preste depoimento na quarta-feira, antes de Bastos. Mas o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), disse que a convocação de Mattoso deverá ficar para a próxima semana, porque o requerimento neste sentido tem de ser aprovado. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse ontem que Bastos agiu com correção, mas que a oposição está ansiosa para continuar atacando o governo: ¿ Estamos absolutamente tranqüilos. O ministro agiu com correção. Se tivermos racionalidade na disputa política, o ministro sai (do cerco). O ministro apenas cumpriu as funções políticas de quem tinha que saber de tudo que acontecia. Embora Tarso acredite que a oposição vai continuar no ataque, o envio à Justiça Federal, na quarta-feira, do relatório do delegado Rodrigo Carneiro Gomes, que atribui a responsabilidade pela violação ao ex-ministro e a Mattoso, deve reduzir a pressão sobre o governo. ¿ Mas não temos expectativas de que a temperatura vá baixar. Há uma ansiedade da oposição de criar fatos políticos negativos contra o governo até que o Congresso entre em recesso branco por conta das eleições ¿ afirmou Tarso. Efraim defende ainda que o requerimento para convocar os dois assessores de Bastos ¿ o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete do ministério, Cláudio Alencar ¿ seja votado na terça na CPI:

Oposição promete respeito e rigor

No Congresso, a oposição promete um tratamento respeitoso porém duro com o ministro. PFL e PSDB querem saber, por exemplo, quando o presidente soube da participação de Palocci no episódio. ¿ Será o grande júri da vida dele, mas não como advogado e sim cliente. Bastos confundiu as funções de ministro da Justiça com as de advogado criminalista. Não faremos grosseria, mas ele que não espere tratamento como o dado a Palocci no passado ¿ disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). ¿ O depoimento está marcado para terça na Câmara, mas não sou contra uma sessão conjunta das duas Casas na quinta. Mas ele vai entrar e sair na condição de investigado sobre sua atuação no caso ¿ acrescentou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Segundo assessores, Bastos vai reafirmar que disse ao presidente Lula na noite do dia 23 que a situação do ministro da Fazenda era insustentável. Entretanto, naquele momento, explicam, a Polícia Federal ainda não tinha provas suficientes do envolvimento do ministro na operação, porque apenas um funcionário da Caixa havia sido ouvido no inquérito. Só na noite do domingo, dia 26, segundo os assessores, com os depoimentos dos outros envolvidos na operação, ficou claro quem determinara a quebra do sigilo bancário de Francenildo. A PF deve pedir a quebra do sigilo telefônico do ex-assessor do Ministério da Fazenda Marcelo Netto. Ele é suspeito de ter divulgado o extrato bancário.