Título: ALERTA SANITÁRIO
Autor: Alceu Cardoso
Fonte: O Globo, 17/04/2006, OPINIÃO, p. 7

Hoje, mais do que nunca, os focos de certas enfermidades animais, em particular as zoonóticas (transmissíveis de outros animais ao homem), podem ocasionar consideráveis problemas econômicos e sociais e ser uma fonte de pânico em escala cada vez mais global. As crises sanitárias recentes vinculadas à encefalopatia espongiforme bovina (doença da vaca louca), à febre aftosa e até mesmo à febre maculosa ilustram amplamente esta nova tendência. A influenza aviária (a epizootia atual) mostra também que um evento sanitário grave que afeta o reino animal pode ter repercussões globais, tanto em âmbito da economia rural como na segurança sanitária dos alimentos. Isso pode significar uma série de ameaças para a saúde pública. A globalização é um dos fatores propícios ao aparecimento de enfermidades emergentes e reemergentes, e em grande parte responsável pelo aumento de suas repercussões. Assim sendo, os serviços veterinários nacionais constituem o organismo chave para a prevenção, detecção e controle das enfermidades animais, incluídas aquelas transmissíveis ao homem e vice-versa. Eles cumprem uma função importante em todos os países como garantia da sanidade animal e das questões conexas de saúde pública. O desenvolvimento de vários países depende do desempenho de sua agricultura em termos de produção, qualidade e segurança sanitária dos produtos animais, o que, por sua vez, está relacionado diretamente à qualidade dos seus serviços veterinários. Para serem eficazes, os serviços veterinários devem levar a cabo suas funções com transparência, sobre a base de princípios científicos, além de autônomos do ponto de vista técnico, atuando sem interferências dos políticos e das partes interessadas. Sendo assim, todos os esforços para reforçar os serviços oficiais requerem uma ativa participação técnica e financeira, tanto do setor público como do setor privado. A Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) considera os serviços veterinários como um bem-estar público global e sua conformidade com as normas internacionais (em termos de estrutura, organização, recursos, capacidades, papel do setor privado e das profissões paraveterinárias) como uma prioridade de investimento público. A OIE se compromete a elaborar normas internacionais para os serviços veterinários e a ajudar seus 167 países membros. Com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica), na OIE há desenvolvimento de uma ferramenta interativa para a evolução dos serviços veterinários de acordo com as normas adotadas. Por todas estas razões, hoje se reconhece que os serviços veterinários constituem um bem público internacional. Sendo o Brasil um país tropical, onde são reconhecidas pelo menos 169 zoonoses, há de se ter efetivo cuidado na conduta, na formação e na informação dos profissionais que lidam com entidades nosológicas. Aqui fica um alerta às autoridades para esta questão de extrema importância, para o bem do nosso povo e de todo o planeta.

ALCEU CARDOSO é médico veterinário e membro do Comitê Gestor da Vigilância Agropecuária do Ministério de Agricultura e Abastecimento (Vigiagro).