Título: FUTURO DA VARIG DEVERÁ SER DECIDIDO ESTA SEMANA PELA JUSTIÇA FLUMINENSE
Autor: Geralda Doca e Chico Otávio
Fonte: O Globo, 17/04/2006, ECONOMIA, p. 17

Garotinho diz que governo do Rio pode comprar ações para fortalecer empresa

BRASÍLIA e RIO. A Justiça do Rio retoma hoje a análise do processo de recuperação judicial da Varig e não descarta obrigar esta semana os credores, sobretudo a BR Distribuidora, a dar fôlego à Varig, que enfrenta um estrangulamento de caixa. Para isso, aguarda apenas que uma das partes interessadas entre com pedido de liminar. Outra possibilidade é a decretação de falência da companhia, diante da falta de condições de recuperação. O juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, que conduz o processo, afirmou, no entanto, que não tomará uma decisão precipitada e vai esgotar todas as possibilidades para tirar a empresa da crise. Nos próximos dias, o Conselho de Administração da Petrobras Distribuidora (BR) analisa o pedido da Varig para pagar o combustível num prazo de 60 dias. O pré-candidato do PMDB a presidente da República nas eleições deste ano, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, disse no fim de semana a diretores da Varig e de sindicatos que o governo fluminense estuda a possibilidade de comprar R$400 milhões em ações da Varig, que poderiam ser usados como garantia para credores como BR, Infraero e Banco do Brasil. Em reunião na manhã de sábado no Palácio Laranjeiras, Garotinho afirmou que, em 45 a 60 dias, técnicos do governo de Rosinha Garotinho no Rio responderão sobre a possibilidade de usar ativos do fundo de previdência estadual na negociação.

Crise da empresa entra na pauta da corrida eleitoral

Outra hipótese levantada pelo ex-governador é obstruir a já atrasada votação do Orçamento federal para forçar o governo a fazer um encontro de contas com a Varig. O encontro de sábado reuniu o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Sérgio Cavalieri, e representantes dos aeroviários e aeronautas de Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e Guarulhos, além do presidente do Conselho Curador da Varig, César Curi, e diretores da empresa. Garotinho disse aos presentes que, com a compra das ações, a Varig ganharia tempo para sua reestruturação. Quando sindicalistas citaram uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), reconhecendo débitos do governo federal com a empresa aérea por causa do congelamento de tarifas do Plano Cruzado, Garotinho sugeriu a obstrução e prometeu mobilizar os peemedebistas aliados. O empresário Nelson Tanure também participou do encontro. Depois de o governo federal deixar claro que não socorrerá a Varig e da intervenção da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) no fundo de pensão dos funcionários (Aerus), foram postas na mesa duas propostas. Uma é a oferta da ex-subsidiária VarigLog, que ofereceu US$400 milhões pela companhia aérea. A outra foi formulada pelos funcionários: extinguir as rotas domésticas. Em outra frente, representantes da empresa de consultoria Alvarez & Marsal, responsável por fazer a reestruturação da Varig, tentam obter apoio do BNDES. Ontem, funcionários fizeram novamente manifestações. Foi celebrada uma missa em Ação de Graças pela salvação da companhia na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. O comandante Felipe Paiva, diretor da Associação dos Pilotos da Varig (Apvar) e dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), disse que participaram cerca de 600 pessoas. Após a missa, os funcionários caminharam até o Arpoador e Copacabana. Na manifestação, o TGV colheu assinaturas dos empregados para entrar na Justiça pedindo o desbloqueio de R$200 milhões do Aerus, que está com menos de R$800 milhões em caixa, para serem injetados na Varig. Hoje, funcionários abraçarão o antigo prédio do Tribunal Regional do Trabalho, no Centro.