Título: SENADORES DEFENDEM `IMPEACHMENT DAS URNAS¿
Autor: Maria Lima e Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 13/04/2006, O PAÍS, p. 8

Parlamentares reconhecem que não clamor popular para abertura de processo contra Lula

BRASÍLIA. A partir da denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra 40 envolvidos no escândalo do mensalão, a oposição começou a pôr em prática ontem uma estratégia para tentar vincular diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o denunciado esquema criminoso. Na tribuna do Senado, diversos parlamentares se revezaram ao longo do dia para afirmar que o Congresso Nacional já teria dados suficientes para propor um processo de impeachment de Lula. A maioria, no entanto, admite que não há clima político e nem clamor popular para levar essa proposta adiante, mas aposta num ¿impeachment das urnas¿. ¿ Do ponto de vista formal, já há todos os elementos para o impeachment do presidente Lula. A denúncia apresentada pelo procurador-geral envolve diretamente o presidente da República. Mas diante da aproximação da eleição, nós vamos deixar as urnas resolverem isso ¿ afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), concorda que não há, hoje, clima para se propor o impeachment de Lula. Mas disse que o governo deve ficar em estado de alerta e acompanhar a repercussão das denúncias do Ministério Público na população porque o clima pode mudar: ¿ O indiciamento de 40 pessoas não só mostra que a CPI dos Correios estava certa como poderá provocar indignação na sociedade. Da indignação para a comoção é um passo. E comoção popular pode levar ao impeachment ¿ adverte Agripino. ¿ Mas nós não queremos o impeachment. Queremos o impeachment nas urnas ¿ acrescentou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

¿Lula é o grande responsável por ação¿

Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), o procurador-geral da República só não citou Lula porque não quis: ¿ Eu não tenho dúvida: ele (Lula) é o grande responsável por ação. Se não fosse o grande responsável, alguém tinha que ser internado porque a omissão é doentia. Tudo isso aconteceu em volta dele. E ele não sabe de nada? Realmente, é uma pessoa que não estaria em condições de presidir um país. Deveriam pedir uma análise de psiquiatra para dizer: ¿Olha, este homem não conhece as coisas, não diferencia o verde do azul, não sabe o que é certo e o que é errado¿. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), também disse que o impeachment tem de preencher três requisitos: um jurídico, um político e outro de clamor popular. Na sua avaliação, apenas o primeiro foi preenchido totalmente até agora. De qualquer forma, considera a situação do governo grave e teme os efeitos de uma eventual formalização do pedido de impeachment pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): ¿ O governo vive hoje no fio da navalha. O Lula tem se sustentado com um culto à sua biografia anterior à chegada ao poder. Ele não tem pudor de usar a máquina federal em seu benefício e está disputando a quinta eleição presidencial, o que lhe garante uma base incrível. Numa conversa há 40 dias com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o líder tucano fez uma análise da atuação da oposição e analisou se o partido não havia se equivocado ao tentar preservar o presidente Lula durante as investigações realizadas pela CPI dos Correios. Mas os dois chegaram à conclusão de que o afastamento de Lula poderia provocar estragos para o país maiores que os registrados até agora. Mesmo considerando que existem motivos suficientes para abertura do processo de impeachment de Lula, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) considera que seria um equívoco propô-lo na atual conjuntura. ¿ Não há condições políticas para pedir o impeachment. Tudo o que o Lula quer é se fazer de vítima. Mas com esta denúncia o povo tem elementos para avaliar o que aconteceu e acordar ¿ afirmou Peres.