Título: EDUCAÇÃO REDUZ NÚMERO DE FILHOS
Autor: Flávia Oliveira/Cássia Almeida/Letícia Lins/Lucian
Fonte: O Globo, 13/04/2006, Economia, p. 26

Nível de instrução tem influência maior que renda na taxa de fecundidade

RIO e RECIFE. No balanço entre os fatores que mais influenciam as famílias a procriarem, a educação tem peso maior que a renda. Mesmo nos domicílios pobres, o nível de instrução reduz a taxa de fecundidade. Nas famílias com renda per capita de até um salário-mínimo e mulheres que estudaram ao menos oito anos, a média de filhos é de 3,2. Essa taxa sobe para 4,3 nas famílias ricas (mais de cinco salários) e com mulheres pouco instruídas (até três anos de estudo).

- Acima do debate entre os adeptos de várias formas de controle da natalidade e dos valores religiosos, está o conhecimento. A educação liberta a mulher - destacou o presidente do Instituto Pereira Passos (IPP), Sérgio Besserman.

Marcelo Neri, do CPS/FGV, alerta que o aumento da gravidez na adolescência pode inverter a equação favorável entre educação e taxa de natalidade. O IBGE constatou que, em 1991, 16% das crianças nascidas no país eram filhas de adolescentes (15 a 19 anos). Em 2004, essa parcela subiu para 19,9%. Neri lembra que as meninas grávidas, muitas vezes, não conseguem continuar a estudar.

A educação também ajuda na redução da mortalidade infantil. Quando a mãe tem menos de três anos de estudo, a mortalidade infantil chega a 34,9 por cada mil crianças nascidas vivas. Essa taxa recua para 15,1 entre as mães com ao menos oito anos de estudo.

A história de Nancy Farias de Souza, 59 anos, exemplifica a redução da mortalidade infantil nos últimos anos. Moradora de uma favela de Recife, Nancy teve 21 filhos, mas só conseguiu criar seis. Mas dos 40 netos, apenas um não sobreviveu. Morreu de diarréia, como os seus tios.

- Naquele tempo a gente não tinha consciência, não sabia cuidar dos filhos. Hoje tem médico de família, tem posto de saúde na comunidade, tem soro caseiro, só morre de dor de barriga quem quer - afirma Nancy. (C.A., F.O., L.R. e L.L.)

BALANÇO DO SOCIAL

RENDIMENTOS: No país, os 10% mais ricos ganham 16,2 vezes a renda dos 10% mais pobres. O estado mais desigual é o Maranhão, onde um rico vale 27,9 pobres. Em Santa Catarina, a diferença é de dez vezes, a menor do país. No Rio, de 13,7.

DIRETORIA: No Distrito Federal, 8% das mulheres ocupam cargos de direção. Para o IBGE, a explicação está no número de funcionários públicos concursados. A média nacional é de 3,9%. No Rio, fica em 4,3%.

CASAMENTOS: A proporção de casamentos de mulheres solteiras com homens divorciados quase dobrou desde 1991. Saíram de 3,9% para 6% em 2004.

DUPLA JORNADA: No Rio Grande do Sul vivem os homens que mais se dedicam aos afazeres domésticos:72,9%. No outro extremo está Alagoas, onde apenas 25,4% dos homens que trabalham participam das tarefas do lar. No Rio, são 40,5%.

ATRASO ESCOLAR: No país, o tempo médio para conclusão da 4ªsérie do ensino fundamental é de cinco anos e da 8ª série, de 9,9. Na Bahia, os números são de 6,3 e 11,7 anos, respectivamente.

DEFASAGEM: No Nordeste, 73,2% dos estudantes de 18 a 24 anos estão cursando os ensinos fundamental e médio. Apenas 16,4% já estão na faculdade. No Sudeste, 43,7% estão na universidade, 35,8% no ensino médio e 7% no fundamental.