Título: JOVEM MORTO POR VIOLÊNCIA DIMINUI
Autor: Luciana Rodrigues, Dicler Simões. Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 13/04/2006, Economia, p. 27

Taxa de mortalidade de homens de 20 a 24 anos voltou aos níveis de 95

RIO e RECIFE. A taxa de mortalidade dos homens de 20 a 24 anos por causas externas caiu em 2004 e voltou aos níveis de 1995, quase uma década atrás, segundo a Síntese de Indicadores Sociais. O número de mortes provocadas por acidentes ou violência saiu de 183,8 por cem mil habitantes em 2003 para 170,9 no ano seguinte, segundo o IBGE. A taxa vinha subindo desde os anos 80, quando estava em 121,2.

- O indicador atenua a perplexidade da gente diante do quadro gravíssimo de extermínio da população jovem, mas o nível ainda é absurdo. Essa população está salva - diz o antropólogo Júlio César de Tavares, professor da UFF.

Os dados do IBGE confirmam o raciocínio. A mortalidade de homens jovens por causas naturais era de 73,7 por cem mil em 2004, quase idêntica aos 74,9 de 2003. Já a mortalidade de mulheres de 20 a 24 anos é de 39,6 por cem mil nas causas naturais e de 18 por cem mil por motivos externos. Ou seja, a mortalidade dos jovens rapazes por violência e acidentes é dez vez superior à das moças.

O IBGE também calculou a probabilidade de morte dos jovens brasileiros. No país, de cada mil homens de 20 a 24 anos, 14,6 morrem. A probabilidade para as mulheres de mesma faixa etária é de 3,6. Nos estados, a situação é mais grave no Amapá, onde há 24 mortes por grupo de mil homens jovens. Em seguida, aparecem Pernambuco (22,8), Roraima (21), Rondônia (18,4), Paraíba (17,6) e Rio de Janeiro (17,5), na sexta posição.

- A alta probabilidade de morte no Norte e Nordeste é a prova da nacionalização da violência. A banalização da morte de jovens, que parecia um fenômeno carioca, está se disseminando. A pesquisa só não esclarece se persiste o que chamamos de kit estigma, que vitima jovens, negros, moradores de favelas - diz Jailson de Souza, coordenador do Observatório de Favelas.

Era este o perfil do marido de Iracema Gonçalves da Silva, de 19 anos, mãe de um bebê de 2 anos. O companheiro, Márcio Nascimento, morador da favela Ayrton Senna, a mais violenta de Recife, praticava pequenos delitos. Foi executado a tiros. E não foi o único. A viúva lembra de pelo menos três amigos que morreram como Márcio, mesmo sem estarem no crime.

- Acho que está acontecendo o contrário. A violência só faz aumentar - diz.

INCLUI QUADRO: MENOS MORTES / Taxa de mortalidade dos homens de 20 a 24 anos por causas externas (violência ou acidentes)