Título: No Rio, 15% das famílias ainda não têm esgoto
Autor: Luciana Rodrigues, Dicler Simões. Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 13/04/2006, Economia, p. 27

Abastecimento de água no estado, que é lanterna no Sudeste, exclui 11% dos lares, pior que a média do país

RIO e VOLTA REDONDA. Apenas 7,5% dos lares urbanos brasileiros não têm abastecimento de água. A coleta de lixo chega à quase totalidade dos domicílios nas cidades (96,3%). Mas a rede de saneamento está ausente de mais de um terço (34,1%). E o Estado do Rio aparece na lanterninha da Região Sudeste no acesso à água e rede de esgoto. O abastecimento de água no estado deixa de fora 11% dos domicílios, taxa acima da média nacional. Há 3,3 milhões de lares urbanos sem abastecimento de água no Brasil, dos quais 525 mil estão no Rio.

No serviço público de esgoto, 15,8% das famílias fluminenses nas cidades estão excluídas. Parcela muito superior que os 7,8% de São Paulo.

Especialista: números refletem má administração

Para Ronaldo Seroa da Motta, coordenador de Estudos de Regulação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números do Rio são reflexo de má administração estadual nos últimos 20 anos. Para ele, falta política habitacional ao estado. As ocupações irregulares, comuns em grandes cidades, no Rio criam uma dificuldade adicional. Como as favelas surgem nos morros, o relevo dificulta a instalação da infra-estrutura. O pesquisador lembra ainda que as cidades do interior são muito pobres. Na Região Metropolitana, o acesso à água e saneamento é melhor.

Em Pinheiral, no Sul Fluminense, pelo menos metade das 600 famílias que vivem no Parque Maíra não têm acesso à rede de esgoto. A água barrenta que recebem mal dá para lavar a roupa. Água para beber é obtida numa mina e o esgoto doméstico é lançado nas valas.

- Meus filhos estão com lombrigas. O terreno está contaminado pelas valas e fossas mal feitas. Não sabemos se a água que chega às torneiras está suja - contou Edileine Amâncio.

Na tarde de ontem, o morador Luiz Fernando Cupertino, capinava uma vala obstruída pelo mato em frente à sua casa, onde apareceram cobras.

A baixa cobertura de acesso à água encanada e rede de saneamento no Estado do Rio de Janeiro surpreendeu Sérgio Besserman, presidente do Instituto Pereira Passos (IPP):

- É sabido o reflexo do investimento em saneamento básico na queda da mortalidade infantil e nos gastos com saúde. Essa situação é urgente.

O problema do Rio aparece nas estatísticas da economia. No cálculo do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas) estadual de 2005, o setor de água e esgoto registrou queda de 0,14%.

Dados nacionais de acesso à água são positivos

Os dados nacionais, porém, mostram um quadro positivo de acesso à água, na avaliação de Seroa da Motta, do Ipea:

- Uma cobertura de 92,5% é praticamente universal, frente ao problema habitacional do Brasil. As ocupações irregulares avançam em áreas sem infra-estrutura. A rede de água e esgoto só é construída depois.

Ele afirma que, nos últimos 20 anos, quase cem milhões de brasileiros foram incluídos no serviço de água, o equivalente a quase três vezes a população da Argentina. A coleta pública de esgoto ainda é incipiente, mas tem crescido a taxas mais altas na última década, afirma. Os números do IBGE, por abordarem o acesso a serviços públicos, não consideraram as fossas sanitárias. Em 28,8% dos lares brasileiros nas cidades, a coleta de esgoto é em fossas.

- Em alguns casos, é uma alternativa barata e que resolve - afirma o técnico do Ipea.

INCLUI QUADRO: SERVIÇOS AUSENTES / PERCENTUAL DOS DOMICÍLIOS URBANOS SEM ACESSO