Título: Reação em bloco contra o Irã
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Fonte: O Globo, 13/04/2006, O Mundo, p. 31

Potências pressionam país a parar enriquecimento de urânio. Teerã mantém desafio nuclear

As principais potências mundiais reagiram com firmeza ontem ao anúncio do Irã de que o país liderado por aiatolás - desobedecendo a uma recomendação expressa da ONU - enriqueceu urânio para seu controverso programa nuclear.

Num raro momento de concordância, Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha, embora em tons diferentes, condenaram a atitude de Teerã e exortaram o governo iraniano a deter o programa e retornar à mesa de negociações a fim de encontrar uma saída para a crise que vem se avolumando nos últimos meses. Os seis países marcaram para o dia 18 uma reunião em que discutirão a situação. O Irã, por sua vez, voltou a defender seu direito à tecnologia nuclear, garantindo que seus objetivos são pacíficos.

China não esconde sua preocupação

A reação mais forte partiu dos Estados Unidos. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse que quando o Conselho de Segurança da ONU se reunir novamente no fim do mês "será hora de ação com medidas fortes" para forçar o Irã a cumprir as exigências da comunidade internacional.

- Não podemos permitir que isso continue - disparou Condoleezza, sem especificar que tipo de ação tinha em mente. - O Irã perdeu muitas oportunidades de negociar de boa-fé.

Cautelosa, a chancelaria russa disse que o anúncio do Irã - um aliado tradicional de Moscou - foi "um passo na direção errada", mas é preciso "não exagerar a situação". Para o chanceler britânico, Jack Straw, "o último comunicado iraniano enfraquece ainda mais a confiança internacional no regime" dos aiatolás. A China, outra aliada de Teerã, também expressou seu descontentamento. O embaixador chinês na ONU, Wang Guangya, afirmou que Pequim está preocupada e que o Irã está indo contra os parâmetros da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e da ONU.

- Espero que os iranianos se dêem conta das reações e sejam mais cooperativos com a AIEA e com o Conselho de Segurança - disse.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu que as partes envolvidas retomem as negociações e que "se esfrie a retórica".

EUA: Teerã teria bomba até 2008

Por trás da celeuma está a desconfiança do Ocidente de que o regime iraniano - que escondeu parte de seu programa nuclear durante anos - esteja buscando desenvolver armas atômicas. Hoje chegará a Teerã o diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, para discutir a situação com as autoridades iranianas. Em janeiro, o Irã interrompeu sua cooperação com a agência, que vinha fazendo inspeções sem aviso prévio. No fim do mês, ElBaradei fará um relatório ao Conselho de Segurança da ONU, que deverá agir a partir de suas conclusões. Os países envolvidos têm procurado reforçar a via diplomática, descartando uma ação militar para lidar com o problema. Ontem, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse que eram especulações da "terra da fantasia" reportagens na imprensa americana afirmando que seu país está preparando planos de ataque ao Irã.

O Irã, por enquanto, mantém sua postura desafiadora. Ontem, um funcionário do governo iraniano disse que "as atividades nucleares do Irã são como uma cachoeira que começou a fluir e não pode ser detida". O vice-chefe do programa nuclear, Mohammad Saeedi, declarou que o país pretende pôr em operação três mil centrífugas até março de 2007.

Segundo o secretário de Estado-adjunto dos EUA para o Controle de Armas, Stephen Rademaker, com tal capacidade, levaria menos de um ano para o Irã ter urânio suficiente para uma bomba.

Inclui quadro:O risco da proliferação