Título: O alvo é Lula
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 14/04/2006, O GLOBO, p. 2

Os partidos de oposição chegaram à conclusão que não há outro caminho, para tentar vencer as eleições, que não seja o de manter o ataque cerrado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As pesquisas divulgadas pelos institutos Datafolha e Sensus mostram que espontaneamente 43% dos entrevistados dizem já ter candidato. Destes, quase três em cada quatro ouvidos votam em Lula.

A crise política, iniciada com o escândalo do mensalão, não resultou até este momento na quebra da confiança dos eleitores no presidente da República. Lula está visivelmente desgastado e seu governo não tem o glamour que os seus imaginavam, mas a oposição não conseguiu até agora conquistar a confiança nem empolgar os eleitores. Não é pouca coisa o fato de, ao longo de toda essa crise, a oposição não ter mobilizado a população para ir às ruas contra Lula.

Mas se a crise foi danosa para a imagem do governo, ela também antecipou a sucessão presidencial e a definição de um contingente expressivo dos eleitores. É elevado o índice de pesquisados que espontaneamente dizem que votarão na reeleição do presidente. Por isso, os candidatos da oposição precisam se dedicar, antes mesmo de construir suas próprias candidaturas, à tarefa de destruir a candidatura de Lula.

Esta não é uma novidade para os tucanos. Em 2002, o candidato José Serra só abriu passagem para o segundo turno depois da destruição das candidaturas da senadora Roseana Sarney, pelo PFL, e do ex-ministro Ciro Gomes, pela coligação PPS-PTB-PDT. As três tarefas tucanas são: viabilizar a candidatura Geraldo Alckmin, vergastar o presidente Lula e impedir o lançamento de Anthony Garotinho pelo PMDB.

Por razões políticas, e não eleitorais, os tucanos têm dois aliados nessa tarefa: os candidatos do PSOL, senadora Heloísa Helena (AL), e do PPS, deputado Roberto Freire (PE). Esses dois candidatos representam forças políticas que buscam um espaço protagonista na esquerda. O PSOL, que se apresenta como uma alternativa de ruptura, e o PPS, que trilha um caminho social-democrata, precisam romper a hegemonia petista para se firmarem na esquerda.

A radicalização do conjunto da oposição, que volta a levantar a bandeira do impeachment do presidente Lula, segundo um ex-ministro do governo Fernando Henrique, é um indício de que sua expectativa não é de poder mas a de se manterem na oposição.