Título: Okamotto: há 30 anos, o escudeiro fiel e protetor do presidente Lula
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 16/04/2006, O PAÍS, p. 4

ONDE ESTÁ A ÉTICA? AMIGO DO PETISTA TERIA PAGO DÍVIDAS TAMBÉM DE SUA FILHA

O Japonês, como é chamado, sempre atuou nos bastidores pelo petista

SÃO PAULO. A única divergência entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu fiel escudeiro, Paulo Tarcísio Okamotto, é o futebol. Para a tristeza de Lula, que é corintiano, o amigo ¿Japonês¿ é palmeirense. E só. No mais, em plena crise política, a amizade acaba de completar 30 anos, sem qualquer rusga. Okamotto, segundo ele mesmo, adora política, mas é do tipo que prefere carregar o piano, de preferência, pelos bastidores. ¿ Alguém precisa arrumar o carro de som para se fazer política, não é mesmo? Eu sou o cara que gosta de arrumar o carro de som. É o meu jeito de contribuir ¿ diz Okamotto, presidente do Sebrae que pendurou o macacão de fresador na Commander, em São Bernardo do Campo, nos anos 80. Amigo ideal para um presidente, Okamotto é discretíssimo. Mesmo com uma renda bruta de R$30 mil, mora na mesma casa dos tempos de peão do ABC, no Jardim Silvino, em São Bernardo do Campo. Prefere comida simples e roupas confortáveis. O hobby é pegar mudas de plantas por onde vai e plantar na chácara que diz ter herdado do pai, em Atibaia. ¿ Gosto de ser modesto, detesto ostentação. Mas hoje tenho dinheiro, ganho muito bem ¿ afirma. Okamotto é de falar pouco e baixo, sempre com posições pragmáticas, concordam amigos e inimigos. Mas é dúbio. Quando fala, sempre projeta o romantismo político sobre a ¿missão de ruptura¿ do companheiro Lula. E conta que em sua cabeceira repousam atualmente dois livros: ¿O Futuro chegou¿, do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, e o romance ¿O caçador de pipas¿, de Khaled Housseini. ¿ Talvez eu seja um pouco pragmático. É que eu procuro não inventar a roda, prefiro buscar conhecimentos espalhados e juntar. Também gosto de conciliar. Adoro política, mas nunca quis ser candidato. Gosto de fazer política em outro patamar, de agir pelas idéias. Nos quase 30 anos de política, nunca aceitou a linha de frente, mesmo tendo como escola entidades de massas, como o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, a CUT e o próprio PT. ¿ Ele sempre foi um burocrata. Desde que conheceu Lula age assim. Está sempre pronto a servir o companheiro, do seu jeito centralizador e cumpridor de tarefas¿ afirma um inimigo. Foi no sindicato que ele conheceu Lula, em 1976. Okamotto ou ¿Japonês¿, que é como o presidente costuma chamá-lo nos momentos de descontração, admite que se especializou em resolver problemas. Okamotto nasceu em Mauá e, aos 6 anos, ficou órfão do pai. Começou a trabalhar cedo, num bar da família. Logo virou arrimo de família e foi trabalhar no ABC. Uma das suas mágoas é não ter conseguido estudar. Compartilha a frustração com Lula. Aprendeu política na militância sindical, nos cursos de formação marxista.

"Nós levamos as pancadas e preservamos você"

Em 1980, com a prisão de Lula pelo regime militar, foi da direção provisória do sindicato. Okamotto integrou o novo comando, assumindo a tesouraria, onde ficou de 1981 até 1984. Foi eleito na chapa de Jair Meneguelli, hoje presidente do conselho do Sesi (Serviço Social da Indústria). Depois, o Japonês foi presidente estadual do PT, de 1988 a 1992. Em 1989, foi o tesoureiro da campanha derrotada de Lula. Participou de todas as suas campanhas. Com a derrota para Fernando Collor, Okamotto ajudou Lula a montar o governo paralelo, em torno do Instituto Cidadania, que depois foi presidir, entre 2001 e 2002. Antes, passou pelo Dieese, pela CUT e dirigiu a gráfica da Associação Beneficente dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, originada do Fundo de Greve do ABC dos anos 80. ¿ Deixa as pancadas com a gente. Nós levamos as pancadas e preservamos você, que é o presidente ¿ dizia sempre Okamotto a Lula, desde os tempos do ABC até a última campanha, conta um amigo dele. Okamotto sofreu várias acusações de irregularidades por causa de Lula, mas nunca reclamou nem retirou seu apoio. Em 1989, teria recebido doações de sindicato, o que é proibido. A ajuda de Okamotto a Lula se intensificou em 1998, quando Sadao Higuchi, que era o contador e amigo de Lula, morreu afogado. Okamotto teria assumido a função. O Japonês foi acusado de ajudar o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, a direcionar dinheiro da primeira geração das prefeituras petistas para sua empresa, a Cepem. Também pagaria contas pessoais de Lurian e de outros filhos de Lula. Ele nega.