Título: TERRA DE TASSO E CIRO FERVE NA LUTA ELEITORAL
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 16/04/2006, O PAÍS, p. 10

Desentendimento entre governador e presidente do PSDB desmonta palanque de Alckmin no Ceará

FORTALEZA. Na terra do presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, a disputa pela Presidência da República está elevando a temperatura do debate sobre a sucessão estadual como jamais visto. Com uma diferença: no Ceará nem o PSDB, que está no poder há 20 anos, nem o PT, seu principal adversário, tem candidato oficial. Até mesmo a candidatura à reeleição do governador Lúcio Alcântara (PSDB), que seria natural, está em xeque. Há duas semanas, Tasso rompeu publicamente com o governador ao afirmar, sem citar seu nome, que ele tem duas caras. Alegou, para tanto e para surpresa de muitos, intrigas de bastidores e certas ¿influências domésticas¿ que poderiam prejudicar a disputa. O descontentamento vem de há mais tempo e referir-se-ia também a gestos político-administrativos que contrariaram Tasso.

Briga tucana dá mais ânimo ao PT

O desentendimento desmontou o palanque de Geraldo Alckmin no Ceará, um dos principais estados do Nordeste, região onde o tucano precisa administrar a desvantagem em relação ao adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como indicam as pesquisas de intenção de voto. A briga interna no PSDB deu ainda mais ânimo ao PT e torna cada vez mais próxima uma aliança antes impensável. A principal preocupação está explícita numa resolução aprovada em fevereiro pelo diretório estadual: formar um palanque imbatível para Lula no Ceará. Petistas que comandam a executiva estadual, e até a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, admitem abrir mão da cabeça de chapa. Eles costuram um acordo, antes impensável, para apoiar Cid Gomes (PSB), irmão do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, amigo e aliado histórico de Tasso Jereissati, a despeito das diferenças no plano nacional. Cid não admite oficialmente que é candidato. ¿ Este palanque é fortíssimo ¿ afirmou o presidente estadual do PT, Joaquim Cartaxo, sobre a aliança PT/PSB. O apoio a uma candidatura de outro partido terá que ser homologada no encontro estadual do PT que ocorrerá no final da próxima semana.

Apoio do PSDB a irmão de Ciro foi cogitado

O fechamento desse acordo revelaria a face do pragmatismo a que o PT está disposto a se submeter. Há pouco mais de duas semanas, Ciro Gomes, Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara, que ainda não haviam rompido, sentaram-se em Brasília para analisar a conjuntura estadual e manutenção da aliança que os une há duas décadas. Um dos cenários cogitados foi o apoio do PSDB à candidatura de Cid Gomes ao governo. Nem mesmo o fato de Cid e seu irmão Ciro terem mantido até há poucos meses uma aliança formal com os tucanos, ocupando cargo no primeiro escalão do governo do estado, é problema para os petistas que estão comandando o debate sobre sucessão. Eles ignoraram o fato de, em 2002, Cid e Ciro, à época no PPS, terem subido em palanques ao lado de Tasso Jereissati para eleger o tucano.