Título: PETISTAS AGRIDEM ESTUDANTES DURANTE PROTESTO
Autor: Adauri Antunes Barbosa e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 14/04/2006, O País, p. 8

Alunos da Universidade São Carlos foram expulsos do local da visita do presidente Lula

SOROCABA (SP). Petistas e integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) expulsaram ontem com pontapés, socos e até queimaduras de cigarros estudantes que protestavam contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), em Sorocaba. Os universitários se disseram indignados com a falta de estrutura para a instalação do novo campus. Enquanto a nova sede não é inaugurada, a reitoria pôs os estudantes de alguns cursos numa universidade privada.

Na entrada do evento, que acontecia num terreno ocupado apenas pela tenda improvisada onde estavam autoridades e convidados, os seguranças da Presidência da República tiraram dos estudantes os apitos que eles levavam. Os seguranças portavam armas, mas as mantiveram no coldre à cintura o tempo todo.

Estudantes e operários trocaram palavras de ordem

Ao se aproximar do local onde estava Lula, o grupo de 30 universitários passou a gritar palavras de ordem. ¿Abaixo a repressão, queremos nosso apito na mão¿.

Usando camisetas e bandeiras do partido do presidente (PT) e da CUT, metalúrgicos e um grupo formado também por membros da Juventude Petista revidaram: ¿Abaixo a burguesada, quem manda aqui é a peãozada¿. Aos gritos, alguns ainda exaltavam o movimento hip-hop. A partir daí, começou a pancadaria.

Homens e mulheres batiam nos estudantes também com mastros das bandeiras. Os universitários, a maioria entre 18 e 20 anos de idade, deixaram o local sob escolta da segurança, chorando e mostrando marcas das agressões.

Francisco José Ferreira, ligado ao Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, afirmou que os integrantes da CUT estavam acompanhando Lula na viagem à região. Ele afirmou que os estudantes é que iniciaram a agressão.

¿ Não agredimos ninguém, apenas não deixamos esses burgueses falarem mal do nosso presidente ¿ argumentou Ferreira, que se apresentou ainda como assessor parlamentar do deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), amigo de Lula e ex-presidente da CUT.

Lula não viu agressões, mas pediu calma ao público

O estudante Reinaldo César, que integra o diretório acadêmico da universidade, afirmou que os metalúrgicos começaram a agredir os estudantes só por causa da manifestação contra Lula.

¿ Eles não sabem o que é respeitar o direito legítimo de se reivindicar por uma causa justa ¿ retrucou Reinaldo.

Numa área reservada, Lula não presenciou as agressões. Mas, no discurso, saiu em defesa do prefeito de Sorocaba, Vitor Lippi, do PSDB, vaiado pelos convidados no início da cerimônia.

¿ É extremamente desagradável para um presidente da República quando ele visita o local de uma obra e as disputas políticas locais, regionais ou nacionais tomam conta do evento ¿ disse.